Queridas Senhoras,
a propósito deste livro, a revista do Público desta semana dá a palavra, e faz capa, com os introvertidos. Como criança introvertida que fui, e mãe de uma que também o é, é claro que este assunto me interessa muitíssimo.
Não vou fazer aqui a análise da minha introversão (seria fastidioso e perigoso :)) mas gostei muitíssimo de ler o artigo que põe os introvertidos a falar na primeira pessoa, a contar o seu caso e as suas histórias. Identifico-me com muitas coisas, a necessidade de estar sozinha, claro, mas sobretudo isto: os extrovertidos recarregam baterias através do contacto social; os introvertidos fazem-no através da solidão, estando consigo próprios. Gostam de almoçar sozinhos, dar longos passeios sozinhos, ir ao cinema sozinhos e, pecado dos pecados, trabalhar sozinhos. Obviamente, não são grandes fãs do trabalho em equipa o que, no mundo enredado, hiperligado e hiperopinativo em que vivemos e trabalhamos, é quase um sacrilégio.
O papel dos introvertidos no mundo, as vantagens deste comportamento e as conquistas que pode trazer, deixo para o livro e para esta TED Talk da autora, Susan Cain.
Da minha infância recordo a quantidade de vezes que me diziam “não sejas assim”, “mas que bicho-do-mato”, “vai brincar com os meninos” e por aí adiante. Tudo correu bem (Mãe, não te preocupes!), fui aprendendo a lidar com isso, a conhecer-me e a perceber-me melhor, a procurar o equilíbrio entre o estar sozinha (que ainda hoje gosto e preciso) e valorizar o estar com os outros, o desenvolver amizades profundas, sólidas e duradouras. O lado mais efémero do contacto social, a conversa de circunstância, a dinâmica de grupo, continua a não ser o meu forte, mas aprendi a usar essas ferramentas quando são necessárias, não sem algum “esforço” adicional que os introvertidos têm de empregar sempre mais do que aqueles que se movem com destreza na arena da sociabilidade.
A minha questão hoje é, sobretudo, como ajudar a minha filha neste percurso. Sei que não vou encher-lhe os ouvidos com aquelas frases que tanto me aborreciam, mas sei que tenho de lhe dar meios e contextos para que ela possa ultrapassar as suas próprias barreiras e descobrir, como felizmente tem vindo a fazer, como é bom conviver e ter amigos. Mesmo quando isso nos coloca na berlinda, debaixo dos holofotes, sujeitos a críticas, conflitos e injustiças, daí surgindo tudo o que nos fragiliza mas fortalece também.
Ah!, as inseguranças, a falta de confiança, a auto-estima e toda esta panóplia de fragilidades humanas. A verdade é que já não dou muita importância a isto. De certa maneira, já não há pachorra, desculpem-me a expressão. Been there, done that. O pior já passou, que se lixe.
Mas quero saber ajudar os meus filhos a passar por tudo isto da maneira menos dolorosa possível. Grande coisa. Não há nada que a gente queira mais, não é?
Os vossos rebentos são mais “bicho do mato” ou “donos do pedaço?” (usa-se esta expressão aí em São Paulo, Mariana?)
Boa semana!
Beijinhos a todas,
Céu
O Francisco é claramente bicho-do-mato. Tem a quem sair em dose dupla. Tanto o pai como a mãe são bichos-do-mato, embora disfarcem bem, porque socialmente são pessoas descontraídas e amigáveis. Mas, bem vistas as coisas, também tu és, Céu.
ResponderEliminarA mim preocupa-me mais a total ausência de capacidade para a solidão. Isso, sim, é um handicap grave, e acho que é muito comum. Saber estar sozinho, saber estar consigo mesmo, é uma ferramenta básica para a felicidade, para o bem-estar. Agora, claro, socialmente, é mais fácil de disfarçar do que a bicho-do-matice (não é o bicho do Matisse, coitado do senhor).
Como diz a Bela, a primeira educadora do Francisco, 'estes são tempos para nos virarmos mais para dentro'. Não te preocupes muito com a tua Alice, Céu, ela é apenas uma rapariga do seu tempo :)
Beijinhos
Querida Céu,
ResponderEliminarjá tinha visto esta Ted Talk e fiquei com muita vontade de ler o livro, e depois do teu post, mais ainda.
Cá em casa tenho o António, e a Isabel o Duarte, quem sabe, ainda são muito pequenos.
No meu caso, sempre fui a "envergonhada" do grupo, a mais silenciosa e tímida entre as amigas, irmãos e primos. Por feitio, ou pela vida que levava e a bagagem associada a isso, raramente me encaixei a 100% e nenhum lado. Mas nunca pensei em mim como sendo introvertida, apenas a menina cheia de vergonha e inseguranças, que corava por tudo e por nada., com hábitos diferentes de todos os outros. Vou ler o livro, e já vos contarei a minha conclusão.
Afinal , parece que somos todas mais parecidas do que pensávamos? :))
bjs
Mariana
O meu Francisco também é bicho do mato,o Gonçalo já não é tanto mas não dá confiança e faz a cara nº33( como diz a minha irmã !) e resolve o assunto .O Francisco é observador,do seu canto percebe tudo,intuí tudo,mas não participa muito.Em grande grupo fica na retaguarda,não se expõe e não se evidencia.Evita os confrontos e os conflitos.
ResponderEliminarAinda me lembro do esforço que ele fez para participar na festa de Natal da escola,só faltava ter um cartaz a dizer :Tirem-me daqui !!!
Foi curioso que esta semana o professor de ginástica do Francisco perguntou-me se estava tudo bem com ele ( ele tinha estado com febre e não tinha ido à escola no dia anterior),que o tinha achado um bocadinho caído.Respondi que ainda estava a recuperar,mas sim estava bem.Ele então perguntou-me : " Ele é muito calado não é ?,gosta de observar e está muito atento,mas não participa muito.Qual é o signo dele ?"
Eu posso dizer que também tive a minha fase bicho do mato,não gostava nada de entrar numa sala e ter que cumprimentar toda a gente !! Com os anos fui melhorando e por comparação com a minha irmã,ela é que sofre de bicho-do-matice aguda,sou a super extrovertida capaz de falar sobre tudo e com todos!
beijinhos amigas
Susana
Minhas queridas Senhoras, que engraçado termos todas um fundo de bicho-de-matice (Marta, que expressão gira tu inventaste!). Não deve ser coincidência. Tento não me preocupar muito com a Alice, claro, mas é engraçado como nós, mães e pais, ficamos mais descansados com os filhos "extrovertidos". Eu tendo a não me preocupar tanto com o João, apesar de ele ser mais pequeno, porque ele sempre foi bastante mais expansivo do que a Alice. Pode mudar mas duvido. É o 2º filho, rapaz, por natureza mais aberto, tudo indica que virá a ser "dono do pedaço". O facto de ele ser assim também não ajuda a Alice porque isso traz as inevitáveis e parvas comparações. Adoro a minha irmã mas entre as duas também houve muito disso: ela, muito dada e simpática, eu enfiada na minha vida :)Será que o equilíbrio entre irmãos também passa por isso? Um é sempre mais expansivo do que o outro? Mariana, quando leres o livro não deixes de nos dar a tua opinião. beijos a todas
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