Os meus livros de férias



Queridas Senhoras,

ainda muito a tempo, cá vai o habitual apanhado das minhas leituras de férias.

Perto de três semanas foram preenchidas com o épico O Pintassilgo, obra de umas módicas 900 páginas, de Donna Tartt, a tal escritora que publica de dez em dez anos. O que nos dá tempo de sobra para ler os seus livros, todos bastantes extensos. Tinha lido os anteriores (A História Secreta e O Pequeno Amigo) e, na minha cabeça, Donna Tartt escrevia livros de mistério. Embora O Pintassilgo também seja apresentando como tal, julgo que não se encaixa nessa categoria. É um romance de grande fôlego (mesmo grande) que acompanha a atribulada vida de Theodore Decker, um rapaz que perde a mãe aos 13 anos numa explosão no Metropolitan Museum de Nova Iorque, onde ela se tinha deslocado com a intenção de lhe mostrar um notável prodígio da pintura europeia do séc. XVII: O Pintassilgo de Fabritius. A partir daí, a vida do jovem Theo vai sofrer tantos reveses e desaires que valeram à personagem a comparação com os órfãos de Dickens, como Oliver Twist e o Pip de Grandes Esperanças. De Las Vegas a Amesterdão, mas sobretudo na loja de antiguidades na Village nova-iorquina, para onde Theo é providencialmente encaminhado, sofremos com os seus infortúnios, alucinamos com o seu amigo Boris, crescemos com a sua paixão por Pippa, a jovem ruiva que também estava no museu no dia da explosão. E por aí fora, não me peçam agora para resumir 900 páginas (e ainda tenho mais livros para referir)! Para um contexto acerca do livro e da autora (o "caso" Donna Tartt) podem ler aqui.

E agora para algo completamente diferente. A Rapariga no Comboio, de Paula Hawkings, o tal típico thriller que chega cheio de marketing, empolado pela editora e pelos media, mas que afinal satisfaz “apenas” como uma bola de Berlim na praia. O que já não é nada mau (não que eu coma bolas de Berlim na praia. Eu corro na praia! Ok?). Escrevi sobre o livro aqui.

Por fim, estou mesmo a acabar O Sítio Secreto de Tana French, um thriller bem mais nutritivo de uma autora que, acabo de descobrir, é considerada a dama-do-crime irlandesa. A sinopse fez-me temer uma história demasiado juvenil (a intriga desenrola-se num colégio feminino na sequência do assassinato de um rapaz) mas deparei-me com um enredo apurado e personagens fascinantes. De um lado, os dois detectives que investigam o caso (uma mulher a tentar impor-se na brigada de Homicídios, coutada implacavelmente masculina; e um jovem ambicioso que espera a oportunidade certa para entrar na mesma brigada). Do outro lado (e esta é a melhor parte), temos as raparigas. Holly e as suas amigas Julia, Selena e Becca. Uma espécie de irmandade secreta, invencível, com códigos e rituais próprios. Elas arranjam a sua própria estratégia de auto-preservação no mundo rígido dos colégios femininos/masculinos, em plena travessia de uma adolescência penalizadora sobretudo para as raparigas. "Se fazes aquilo és puta; se não fazes és frígida."

Extra: ainda antes das férias, li Arquipélago, de Joel Neto, sobre o qual também escrevi aqui.

Beijinhos a todas,

Céu

Comentários