Queridas Senhoras,
ao contrário do que o título possa fazer supor, O Enredo Conjugal, de Jeffrey Eugenides, não versa sobre as agruras do casamento, o tédio pesado ou a tensão nervosa que caracteriza muitas das representações literárias dessa mui glosada instituição. A história posiciona-se antes de tudo isso, sendo quase um romance juvenil, pós-adolescente, ou melhor, pós-universitário.
Não se consegue pousar este livro (eu não consegui), muito novelesco, cheio de peripécias, quer acontecimentos de facto, quer, sobretudo, divagações mentais das três personagens nucleares. O clássico triângulo amoroso é aqui protagonizado por Madeleine, Leonard e Mitchell, jovens, belos e cultos. Estamos no olimpo da juventude universitária. Nem todos de boas famílias mas igualizados, como às tantas se diz, pela frequência da mesma universidade, a Brown, Providence, Rhode Island.
Vamos encontrá-los no dia da formatura, vinte e poucos anos, e o enredo desenrolar-se-á num espaço temporal relativamente curto, não avançado para lá do limiar da entrada da vida adulta. Algumas incursões à infância permitem-nos conhecer um pouco melhor o passado dos três mas a acção central decorre no tempo presente da narrativa, situado na década de 80 do século passado.
O enredo conjugal a que o título faz referência alude a um sub-género literário muito em voga no século XIX, cultivado por autoras como Jane Austen e George Eliot, que basicamente trata da velha questão que ainda hoje é a linha narrativa central de muitas novelas: saber quem fica com quem e o que acontece pelo meio.
A literatura acompanha de perto a evolução amorosa e espiritual das personagens. Madeleine, estudante da especialidade, apaixona-se e vigia de perto o seu estado lendo Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes. Leonard, dividido entre estudos religiosos e científicos, tem de lidar com uma doença mental grave, a psicose maníaco-depressiva, e o seu consolo é saber que vários grandes génios, das artes e das ciências, padeceram do mesmo. Mitchell, um teólogo em formação, empreende o seu grand tour no final do curso, atravessando a Europa e conseguindo chegar à Índia, onde espera alcançar simultaneamente a revelação e o esquecimento (de Madeleine).
Um romance tão fresco, vivo e vibrante que nos leva a perguntar onde param os nossos vinte anos, sem que tenhamos a certeza se gostaríamos realmente de repetir semelhante aventura. Há uma excepção à leveza que atravessa estas páginas (o mal de amor juvenil é muito relativo): é a descrição dura, paralisante, dos períodos depressivos de Leonard, o único que tem de facto um problema sério. De resto, todos atravessam um Verão complicado mas aventuroso, enquanto decidem onde irão viver, que estudos irão prosseguir, quem irão amar.
Beijinhos a todas,
Céu
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