A recordação mais antiga que tenho dos Santos Populares é a fogueira que se fazia na rua dos meus avós, na Amadora. É uma lembrança imprecisa, pouco mais do que fagulhas a brilhar na noite e uma vaga sensação de perigo. Seriam clandestinas as fogueiras, proibidas?
Mais tarde vieram os bailaricos, ainda na Amadora, a fazer lembrar os bailes de aldeia que eu conhecia tão bem. E achava graça porque nessas ocasiões a cidade parecia uma aldeia.
Só depois veio o ritual de iniciação da noite de Santo António em Lisboa.
“Vais aos Santos?”
Era a pergunta da praxe. E claro que viemos, muitas vezes. (Até passarmos a dizer “este ano, se calhar, não vamos aos Santos.”)
Quando começámos a ir aos Santos, a noite de 12 de Junho era quase, apenas, o início de um longo verão onde haveríamos de ter muito tempo para nos aborrecer (quero ser velha para voltar a ter tempo de me aborrecer, juro).
Afinal, em meados de Junho, ainda mal tínhamos começado as nossas jornadas para a Costa da Caparica. Julho era o mês em que comprávamos o L123 que havíamos de fazer render até ao último escudo (camioneta para Belém, barco para a Trafaria, autocarro ou caminhada até São João).
Mas nessas noites de Santo António, de início e promessa de verão, era assim:
A estação do Rossio. A subida pela rua da Madalena. Ir ficando cada vez mais apertado e esmagado. Chegar perto do Castelo mas não conseguir entrar. O cheiro a sardinha. A vontade de fazer xixi e não ter onde. Encontrar amigos. Perder amigos. A fila do pão com chouriço. Entornar a cerveja. Ficar com as mãos peganhentas. Não ter onde fazer xixi. Descansar algures nos degraus à porta de uma casa. Apanhar um ar da graça daquilo tudo. Descer de volta ao Rossio, com sorte fazer xixi e não ter de esperar meia hora pelo comboio.
Não me interpretem mal: adoro a noite de Santo António. Principalmente a ideia dela :)
Aliás, hoje não se me dava nada sabem o quê? Uma sardinha em cima de um pedaço de broa, meio pão com chouriço, um caldo verde e um arroz-doce a rematar. A parte boa da festa é mesmo esta.
E viva o Santo António!
Beijinhos a todas,
Céu
Viva o Santo António! É tão engraçado porque é mesmo isso que eu sinto. Adoro 'a ideia', mas a recordação que tenho dos tempos de faculdade das idas 'aos Santos' é assim como que se tivesse sido atropelada por uma manada de elefantes desgovernada. E os dias seguintes, deuses, aquele vinho a martelo... Mas adoro 'a ideia'. E também acarinho as memórias das fogueiras da infância, nas pracetas da Pampilheira. Mantinha sempre uma respeitadora distância das labaredas, mas adorava olhar para elas. E estar ali, na rua, à noite, com toda a gente do bairro.
ResponderEliminarNinguém quer vir levar marteladas ao S.João ?
ResponderEliminarEu não gosto de sardinhas,não gosto do cheiro das sardinhas a assar,gosto dos pimentos e do entrecosto,da sangria ,dos manjericos! Gosto de olhar para o céu e ver os pontos luminosos que são os balões de S.João,gosto das cascatas porque me lembram o presépio da minha avó!
E sabem que na noite de S.João,o tempo fica sempre nublado e cai aquela chuva fininha,a morrinha ? A chamada orvalhada de S.João!
E que passados 9 meses nascem muitas crianças? Afinal o S.João é a noite mais longa do ano !
Tão giro Susana! Não sei quase nada sobre o S. João, nunca tinha ouvido falar dessa chuva miudinha, da orvalhada de S. João. Gostava muito de ir um dia, e hei-de ir claro :) Conta mais coisas! beijinhos
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