Crónicas da cidade

livros

Queridas Senhoras

não sei se já leram algum livro da colecção de literatura de viagens da Tinta da China, dirigida por Carlos Vaz Marques.  Li apenas dois (só agora percebi que a colecção tem já perto de 30 títulos) - Paris, de Julian Green e Nova Iorque, de Brendan Behan – que achei simplesmente deliciosos.

Delícia é a palavra neste género de livros. Sinto um prazer físico enquanto percorro com os autores as ruas desconhecidas de uma cidade, entro com eles nos bares, nos cafés, sento-me com eles à mesa da esplanada a imaginar histórias de quem passa, visito pequenas igrejas fora dos roteiros turísticos, vou por sítios que definitivamente não vêm nos guias. A forma como a luz do Sol incide num determinado prédio de determinada rua pode ser material para três páginas.

Hoje no comboio vinha a ler a recensão a um dos títulos mais recentes da colecção - Mi Buenos Aires Querido, de Ernesto Schoo – e encantei-me com a descrição. Não é uma especial atracção pelas cidades que me move. Ou pelo menos não por aquela ou outra em particular. Gosto de cidades, ponto final.

Deambular pelas ruas de uma cidade - o acto e a ideia - é das coisas mais fascinantes. No entanto, estou longe de ser viciada em viagens. Nunca viajei muito nem tenho aquele impulso de partir (suspeito que preferirei sempre regressar). Julgo que não terei pensado em Buenos Aires mais do que meia-dúzia de vezes na vida e, se acaso pensei que gostava de lá ir, foi de modo leve e distraído como quando nos perguntam se gostávamos de visitar tal sítio. Gostava, claro, mas não sinto nenhum frémito especial.

Mas ao ler que Mi Buenos Aires Querido é uma espécie de “álbum pessoal, de crónica da cidade que conheceu ao longo de décadas de caminhadas, longe do trânsito e dos turistas, em que a memória e as histórias ouvidas se confundem”, então sei que quero fazer estas caminhadas com Ernesto.

Visitar certos locais pode ser uma desilusão sobretudo se tivermos lido (boas) histórias acerca deles. Os lugares têm mais significado quanto mais vividos são. O que estes livros nos oferecem é o prazer e o privilégio de passear numa cidade com quem a conheceu desde sempre. De beber um copo com o autor ao balcão daquele bar mítico (chegar a sentir-lhe o cheiro) e ficar por lá a ouvir histórias do velho que se senta na mesa do canto.
Beijinhos a todas,

Céu

Comentários