Queridas Senhoras,
olha, lá vem o Lobo Antunes, esse cabrão (palavras dele, palavras dele). Deve vir para a apresentação do Rui Cardoso Martins, são amigos, foi ele que escreveu o prefácio. Lá conta a conversa com o Zé Cardoso Pires (o melhor amigo), foi ele que o obrigou a ler as crónicas de tribunal do RCM. Só lhe disse “lê”. Mas o que é que o gajo faz? “Escreve.” E isto bastou e ambos chegaram à mesma conclusão. É um cabrão que sabe “calibrar a prosa”.
Lá vem o Lobo Antunes, agora abraçam-se, ele e o RCM. Há muitos abraços e beijinhos, mulheres, filhos, netos, amigos. E nós, leitores, a fingir que não é nada connosco, que aquela intimidade mesmo ao pé de nós é natural.
Álvaro Laborinho Lúcio, ex-ministro da Justiça, faz a apresentação do livro Levante-se o Réu Outra Vez. Foi convidado na sua qualidade de magistrado mas com sentido de humor. É esta a palavra que ele sublinha, mas. A outra é o cabrão do prefácio. Na plateia, o Lobo Antunes fuma sem parar mas, coisa estranha, não se sente o fumo, não incomoda. Estou mesmo atrás dele e não me cheira a nadinha. Ele e o RCM trocam sinais, códigos de escritores, deve ser. Entretanto dizem-lhe que tem de ir, é certamente esperado noutro pavilhão, mas ele tá quieto, ora agora, estão a falar tão bem, diz ele. E estão mesmo. Laborinho Lúcio cita casos judiciais intercalados com a prosa bem calibrada de RCM. Conclui com Vinicius de Moraes, “porque hoje é sábado”, numa rapsódia de personagens e casos citados.
RCM, quando fala, está nitidamente comovido e eu também. Acho que é mesmo bom tipo, este homem (além de ser um cabrão). Durante dezassete anos frequentou o Palácio da Justiça, ali no Alto do Parque, e depois vinha por aí abaixo esmagado pela incumbência, resumir vidas em duas horas, meia-hora, às vezes dez minutos. Que será feito de toda essa gente? Oxalá estejam todos bem, diz ele. Enfim, os que ainda estiverem vivos.
Nos autógrafos peço: este para a Céu e este para o José. E ele para mim: viu a apresentação? Vou dizer o quê? Escrevi um texto sobre o livro anterior e mandei-lho (e ele retorquiu, que alegria para mim o que escreveu). Antes pouco ligava a autógrafos, agora fico ali embatucada sem conseguir dizer você tem um dom. Ou o senhor. Ou seu cabrão.
Sigo por aí abaixo, olha a menina Luísa Ducla Soares. Ponho-me a escolher os livros, levo Seis Contos de Eça de Queiroz. Este para a Alice, por favor. Ai desculpe, ponha também para o João (ela faz um coração e o João fica lá dentro). E agora para um menino de quatro anos (Gustavo), o que há-de ser? Tenho ali a própria autora a aconselhar-me e não me ocorre outra barbaridade senão: este é bom? Com licença que vou ali atirar-me ao lago.
Nuvens pesam sobre o parque mas a ameaça de chuva não desmobilizou leitores. Olha o João Tordo. Desculpa mas este passo, dizem que o último livro é bom mas ainda tenho trauma de um bastante mauzinho.
Olha a Ana Cássia Rebelo, a Ana de Amsterdam, tão jovem, tão despreocupada, tira fotografias com amigas ou admiradoras, não sei. Parece feliz. Ainda bem.
Beijinhos a todas,
Céu
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