Queridas Senhoras,
acompanhei desde sempre as crónicas de imprensa do Joel Neto. Para além de ser grande fã do género, o Joel foi meu colega de faculdade e seguir os seus diários ao longo do tempo sempre significou reflectir sobre a minha geração de uma forma muito próxima.
Durante anos acompanhei as crónicas “urbanas” que, com o tempo, foram ficando um pouco cínicas, ácidas, desesperançadas, como, aliás todos nós. Revi-me em muitos dos seus textos, reconheci figuras, tiques, manias, modos de ser urbano-cínico-depressivos, sobretudo os especificamente lisboetas.
Há quatro anos o Joel regressou aos Açores de modo semi-definitivo, disposto a criar de novo raízes e a entregar-se a dias laboriosos de escrita, caminhadas, grandes e pequenas reparações domésticas e, claro, uma horta. Foi então que uma janela se abriu, um vento soprou sobre os seus textos diários, renovando a prosa e insuflando-a de uma esperança contagiante.
Quem disse que a felicidade não tem história?
Comecei a acompanhar os novos diários das cenas da vida rural e a sentir toda aquela explosão de vida e natureza. Bem sabemos como na cidade os dias correm muitas vezes iguais e damos por nós a toda a hora a dizer ”O quê? Já estamos em Junho?! Não tarda acabou o Verão. Olha já é Natal.” De facto, na cidade um ano inteiro pode passar sem que se dê por isso; das sardinhas às castanhas assadas é um ápice (e os caracóis aparecem cada vez mais cedo, irra). Logo me habituei, então, a abrir a janela com vista para os Dois Caminhos, como quem sai do ar saturado do escritório para o fresco do jardim, desejosa de respirar aquele ar puro e ser diariamente surpreendida pela variedade humana e paisagística, por assim dizer, contida na singela coluna de jornal. (No início deste ano a curta crónica diária tornou-se semanal e mais longa. A mesma riqueza de situações, personagens, ensinamentos, num registo talvez mais melancólico induzido pelo próprio formato).
Algumas das melhores crónicas destes anos estão agora reunidas no livro A Vida no Campo, que chega esta quarta-feira, 18 de Maio. O lançamento em Lisboa está marcado para 24 de Maio, na Fnac Chiado. A apresentação será de Fernando Alves que, por diversas vezes elogiou estes textos na sua rubrica diária na TSF, Sinais (como aconteceu recentemente com a história de Emanuel, o carteiro da Terra Chã que cita Jorge Luís Borges pela fresca).
Contem, pois, com poesia inesperada e um absurdo desejo, não de sofrer, mas de ser feliz, dê lá por onde der.
Beijinhos a todas,
Céu
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