Só o diabo sabe

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Queridas Senhoras,

quando em 2012 eu e a Marta frequentámos o curso online de Modern & Contemporary American Poetry, tomei nota dos cinco livros mencionados pelo inesquecível professor Al Filreis, quando alguém lhe pediu uma lista de livros da vida. A escolha abrange vários géneros, da poesia ao ensaio. No romance figurava O Mestre e Margarita, do escritor russo Mikhail Bulgákov. Apenas o título não me era desconhecido. Nada sabia da obra mas registei para ler um dia.

Por influência de outras (poucas) leituras russas, esperava uma tragédia, um dramalhão à maneira de Anna Karenina. Qual não é a surpresa quando me deparo com um livro fantasioso e humorístico, uma louca farsa de humor negro. Ora, comédia e fantasia são dois géneros “difíceis” para mim. Gosto sobretudo de um valente drama e/ou de um intricado mistério. Agora humor, ainda por cima sobrenatural? Demorei a entrar na história, a vencer a resistência.

Em linhas breves, O Mestre e Margarita relata a visita do Diabo a Moscovo. O senhor do Mal chega à cidade com o seu séquito para pôr tudo em polvorosa. Mil peripécias doidas acontecem antes que surjam sequer as personagens do título. Já eu ansiava por uma história de amor louco que viesse trazer alguma ordem ao romance, quando finalmente, a meio do livro, vejo recompensada a minha persistência.

Afinal há um amor trágico entre Margarita, uma senhora de 30 anos, bem casada, e o Mestre, que escreve atormentadamente um romance sobre Pôncio Pilatos. Esse romance, cujas passagens vão sendo intercaladas com a história do Diabo, introduz um estilo totalmente diverso. Ao tom vivamente humorístico e fantasioso do enredo principal, opõe-se um estilo realista, denso, pesado, bíblico.

A dada altura, o livro começa a revelar todo o seu poder, a sua força de atracção. Um ponto alto é o baile de Satã em que Margarita, já transformada em feiticeira, toma parte como rainha, com o desfilar de uma série de personagens eternamente condenadas pelos seus pecados. A covardia é a pior das fraquezas – será muitas vezes repetido.

As grandes questões são afinal discutidas. O amor, a morte, a liberdade, a libertação, a paz de espírito, o Bem e o Mal. À medida que o livro se aproxima do fim, cresce a gravidade. É muito bela a cena que descreve a partida do Diabo e do seu séquito de Moscovo. Depois de abandonarem a cidade em chamas e cinzas, enquanto cavalgam pelas estradas do Universo, vão deixando cair as máscaras que compuseram ao longo do enredo para gáudio e espanto de todos, e revelam-se tal como são, em toda a sua gravidade.

E para o Mestre e Margarita, as coisas acabam bem?

Só o Diabo sabe.

Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. Huuuuummmm Espicaçáste-me Céuzita... vou arranjar o livro enquanto o diabo esfrega o olho e sem resistências. Obrigada pela dica. beijo grande.

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  2. Ah ah ah! Boa, é isso mesmo. Obrigada, um grande abraço!

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