Queridas Senhoras,
andava há uns tempos para pegar num livro de Alexandre Andrade (n. 1971), escritor de quem me têm chegado boas referências, a última das quais num debate na Feira do Livro (a propósito do ensaio Vale a pena? Conversas com escritores de Inês Fonseca Santos).
Não é indiferente à fruição da leitura a altura em que lemos certos livros, a nossa disposição, a ordem e sequência das obras. Calhou pegar n’ O Leão de Belfort (2016) imediatamente a seguir ao soco no estômago (para usar uma expressão batida mas que não deixa dúvidas) que é Índice Médio de Felicidade.
A justaposição destes dois livros revelou-se inadequada, causadora de irritação. Depois do soco, senti-me a entrar num exercício de estilo, num diletantismo leve e elegante. Uma injustiça para o livro e para Alexandre Andrade. Aos poucos, porém, a impressão causada pela pancada anterior começou a dissipar-se e pude, então, saborear devidamente as deambulações de Cristina pelos arrondissements de Paris.
Já perdi a conta aos livros mencionados neste blogue que nos transportam para os bairros, praças, cafés, igrejas e livrarias de Paris. Uma referência evidente é Modiano (aqui e aqui ). Mas em O Leão de Belfort não predominam os ambientes sombrios e nostálgicos do Nobel da Literatura de 2014. A Paris de Cristina, a protagonista, tem sombras mas também muita luz, jardins e museus, conversas e confidências, encontros secretos, subterrâneos, esquinas, curvas, dobras, cartazes que anunciam PERDEU-SE LINDO GATO.
Cristina procura uma história (a vida não basta) e Paris recompensa maravilhosamente quem se deixa ir à deriva. Assim como eu fui recompensada por não oferecer resistência a esta escrita polida e ao enredo estiloso.
Paris é fecunda em recursos. No teu lugar eu não duvidava nem desesperava. São dois mil anos a criar peripécias e destinos a partir do nada. (pp. 12)
Beijinhos a todas,
Céu
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