Queridas Senhoras,
às vezes sou tomada de angústias em relação ao futuro, sobretudo quando penso em todo o caminho que os meus filhos têm de percorrer, adolescência, entrada na idade adulta, emprego, chatices. Começo a ruminar e penso: e se lhes acontece tudo? Droga, alcoolismo, acidentes, gravidez precoce, desemprego, doenças, depressões, infelicidade?
Claro, o último livro que li também não ajudou.
O que ajuda é quando chega a manhã e vejo que ainda são crianças a comer iogurte.
Outra coisa que ajuda: um poema.
FOI ASSIM: ESTAVAS FELIZ
Foi assim:
estavas feliz, depois estavas triste,
depois voltavas a estar feliz, depois já não.
Foi-se prolongando.
Estavas inocente ou tinhas culpa.
Levava-se a cabo acções, ou não.
Por vezes falavas, noutras ficavas calado.
Em geral, parecia que estavas calado: o que haverias tu de dizer?
Agora está quase a terminar.
Como um amante, a tua vida dobra-se e beija a tua vida.
Não o faz em jeito de perdão —
entre vocês, nada há a perdoar —
mas com o simples acenar de cabeça de um padeiro
ao reparar que o pão concluiu a sua transformação.
Também comer é agora uma coisa para os outros apenas.
Não importa o que acharão de ti
ou dos teus dias: estarão enganados,
terão saudades da mulher errada, saudades do homem errado,
todas as histórias que contarem serão fábulas da sua própria lavra.
A tua história foi assim: estavas feliz, depois estavas triste,
dormias, acordavas.
Por vezes comias castanhas assadas, por vezes dióspiros.
Jane Hirshfield
(Tradução de Vasco Gato)
Beijinhos a todas,
Céu
Pois, eu acho sempre que o pior é agora, quando não podemos falhar numa altura tão determinante, mas vai-se a ver e o pior está para vir (obrigadinha, Céu).
ResponderEliminarMas o poema ajuda.