Os leitores falam às Senhoras: Célia Fernandes (ilustradora)



Queridas Senhoras,

hoje é a Marta quem vos fala. A Céu cedeu-me, com a gentileza que lhe é tão natural, o lugar na apresentação desta Leitora. Isto porque se trata da Célia Fernandes, com quem eu converso há uns bons anos, com quem já tive o prazer de fazer alguns trabalhos giros, com quem sonho um dia fazer um livro. A Célia estudou nas Belas Artes, em Lisboa, e dedica-se à ilustração, com um traço tão bonito e tão único que é impossível não o reconhecer. No ano passado tive até o conforto de encontrá-lo nos livros escolares do meu filho, no seu 1º ano. E passou a fazer-nos companhia, página após página, lição após lição.
Com esta entrevista fiquei ainda a conhecê-la um pouco melhor: sei agora que se emociona a ilustrar manuais escolares e que gosta de ler o Tiago Cavaco, um rapaz da nossa idade que tem a originalidade e a autenticidade de ser, simultaneamente, pastor baptista, punk-rocker e pai de quatro.
Obrigada, Célia, por teres roubado um tempinho aos desenhos para falar connosco!

1. O que está a ler neste momento?

Felizes para sempre e outros equívocos acerca do casamento, de Tiago Cavaco. O Tiago Cavaco é pastor na Igreja Baptista. Tenho raízes nesta denominação e os fundamentos desta escrita são-me familiares e caros. Além disso gosto da forma como o Tiago escreve, fala e passa a mensagem.

2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?

Antes, O Planalto e a Estepe, de Pepetela;  depois, Milagres no coração, do mesmo autor da leitura do momento - Tiago Cavaco.

3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros

As maiores estão relacionadas com os livros escolares, porque não tinha acesso fácil a livros. Ter um livro escolar com pedaços de outros era muito bom! O cheiro, o arrumo dos textos, as imagens e ilustrações! Hoje, no trabalho que faço, que é sobretudo ilustrar para manual escolar, essa memória tem cheiro, e de tudo o que faço nesta área é o que me dá mais prazer porque imagino que para muitas crianças a experiência pode ser semelhante à que eu tive!

4. Que livros marcaram a sua adolescência?

A poesia da Florbela Espanca - tive mesmo uma grande fixação, mas que depois se esfumou... acho que teve mesmo a ver ali com uma fase mais borbulhante nessa idade porque, curiosamente, mais tarde passei até a desgostar! Os livros do Eça. E, à parte e em particular, As Aventuras de Tom Sawyer, de Marc Twain.

5. Um local público onde goste de ler

Na praia, ou perto do mar. Melhor som de fundo!

6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)

Sofá da sala, bem encostada ao braço! Pernas cruzadas.

7. Uma biblioteca importante para si

Biblioteca de Arte Gulbenkian, o local mais bonito de Lisboa, onde procurava quase tudo o que precisava durante o tempo em que estudei nas Belas Artes.

8. As livrarias que costuma visitar

Fnac e Bertrand, porque são as mais pertinho.

9. Uma editora de que goste particularmente

Orfeu Negro.

10. Que livros gostaria de reler?

Todos os do Eça!

11. Que livros está a guardar para ler na velhice?

Não a guardar, porque leio ou consulto amiúde, mas todos os livros do Velho Testamento seguidos e com calma!

12. Acessórios de leitura que não dispensa

Marcadores, mesmo que improvisados.

13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?

Já me aconteceram as duas coisas! Mas há também a pausa, depois de um tempo ele pode ter um sabor completamente diferente. Gosto de segundas oportunidades!

14. Costuma ler sobre livros? Quais são as suas fontes?

Não, ou muito raramente, não gosto de ser influenciada. Eventualmente sigo recomendações de amigos.

15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade

«Eva disse que lhe trouxera uma prenda da praia. Despejou-lhe na mão duas dezenas de conchinhas. - Um serviço de chá! - disse Isis. - Não te devias ter incomodado.»

Podia ser tanta coisa, mas nesta questão lembrei-me deste pedacinho do Olhos Verdes, da Luísa Costa Gomes (talvez por ser Verão quando vos respondo), não vos sei explicar, mas há coisas que nunca nos esquecemos, como se se tivessem passado connosco. Este diálogo é o caso, nunca me esqueço dele. Duas amigas desalinhadas, mas que se entendem perfeitamente apesar disso! A idade tem-me feito entender o quanto isto é possível e confortável!


Beijinhos a todas,

Marta

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