Os livreiros falam às Senhoras: Alexandra Vieira (Arquivo)



Queridas Senhoras,

Voltamos às conversas com livreiros a pretexto do 40.º aniversário da Livraria Arquivo em Leiria. Alexandra Vieira, a proprietária, tornou-se livreira a tempo inteiro no virar do século, assumindo o legado familiar. Dezoito anos depois, a Arquivo é uma referência no centro do país, um pólo cultural que é livraria, galeria e cafetaria com uma agenda permanente de encontros literários e eventos para toda a família. Parabéns e que conte muitos!

1. Quando e como se tornou livreira?

Em 2000. Por variadas razões tornei-me livreira - entre outras, a insistência do meu Pai em me ter neste projecto e a hipótese de criar um espaço de cultura diferente em Leiria. Em 2000, abriu então uma nova Arquivo na mesma rua mas uns números acima. Passou a ser livraria (com um maior cuidado na selecção dos títulos, um fundo livreiro, com áreas em maior destaque) mas passou também a ter uma cafetaria, uma galeria para exposições, lugar para apresentações, um espaço para os mais novos. A partir daí, e porque não fazia sentido doutra forma, passámos a ter uma agenda mensal intensa, para adultos e para crianças. Sem faltas, sem falhas. Dezoito anos repletos de conversas com escritores, actividades para as crianças como a animação da história infantil pela Liliana Gonçalves, oficinas, música, exposições. É importante atrair mais gente para os livros, as artes, a cultura.

2. Para si, o que é um livreiro?

Alguém que vive apaixonado por livros, pela leitura, pelos escritores, até pelos ilustradores, e que também vende livros... e, por isso, sugere, aconselha, estuda, viaja, para saber sempre fazer melhor o seu trabalho. Alguém que procura fomentar e cimentar o prazer da leitura aos outros. Sem imposições, claro.  E alguém persistente...(e sem muitas dificuldades financeiras).

3. Como caracteriza a sua livraria? 

A Arquivo é uma livraria actual, dinâmica, grande, bonita, com cuidado nos pormenores, onde se está bastante bem. Tem uma boa selecção de livros para todas as idades. É uma livraria para adultos, crianças e para quem gosta de beber um café ou comer uma refeição ligeira -  uma sanduíche Fernando Pessoa ou uma Menina do Mar, por exemplo - e ter livros à volta ou ler o jornal.
Temos os livros que são mais procurados e os que mais gostamos. Damos destaque aos livros em que mais acreditamos. Procuramos permanentemente criar um ambiente tranquilo mas também de entusiasmo e festa. Não gostamos de estar parados.



4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?

Muito importante. Mas também muito exigente para os livreiros. Sem cultura, arte, livros, música, somos pessoas incompletas e sem possibilidade de ser feliz de múltiplas maneiras. Quanto mais perto de nós estiverem os livros ou actividades ligadas a eles, melhor. Vai-se a pé ao café e vê-se o que chegou de novo na livraria do bairro. Serve a todos. É preciso fomentar a leitura e com ela o espírito crítico, a importância da diversidade, da liberdade, do humanismo. «Uma pessoa que lê tem mais hipóteses de ser feliz.» Comecei a gostar de livros porque quando vinha da escola com a minha mãe, vínhamos a pé, ela passava sempre numa livraria que gostava muito. Passei a adorar essa rotina e lia e relia os livros que me dava. Era a livraria Barata.

5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?

Temos muitos tipos de clientes, temos os que passam por acaso, e gostam, os que vêm de propósito de cidades à volta, temos os amigos, fiéis leitores, que passam quase todos os dias na Arquivo, como uma segunda casa, temos muitos pais e filhos, muitos leitores pequeninos. Temos os leitores mais generalistas, mas também os de áreas de nicho, como os de poesia, filosofia. São clientes bons e exigentes. No nosso top estão muitas vezes livros que não são os normais bestsellers. Tanto para adulto como para criança. Temos também clientes que são clientes de papelaria. Somos distribuidores da Moleskine, da Taschen, da Omy, entre outros, e temos material de oferta de outras marcas que gostamos para quem não quer oferecer um livro.

6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?

Trabalhar muito no sentido de atrair público às livrarias. Atrair o nicho que naturalmente gosta de livros e livrarias mas, também, os clientes de centro comercial. Apostando sempre na qualidade das actividades, dos autores que se trazem, numa agenda diferente, permanente. E numa oferta com qualidade. Ter uma boa equipa, ou um parceiro de trabalho, que pensa da mesma maneira. Que gosta muito de livros e da nossa maneira de estar. Parcerias com associações locais, com artistas, com escolas, com a comunidade.  Tudo isto é muito importante.

7. Por último, pode recomendar-nos dois ou três livros importantes para si?

Agora, de repente, lembrei-me destes: Manual Para Mulheres de Limpeza de Lucia Berlin, Todo-o-Mundo de Philip Roth , Agora e na Hora da Nossa Morte, de Susana Moreira Marques, Ana de Amsterdam - Ana Cássia Rebelo, Estou Ausente de Amalia Bautista. Mas poderia dizer muitos outros.





Beijinhos a todas,

Céu

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