Amor público



Queridas Senhoras,

O Miguel Esteves Cardoso e a Maria João fizeram ontem 12 anos de casados. Esta é a carta de amor pública que ele lhe escreveu:

O meu maior medo

O amor em todo o coração e em toda a parte se procura. Já anima a possibilidade de ser encontrado e a incerteza de não passar o resto da vida sem poder amar e sem poder ser amado. O que custa é acreditar naquilo que se tem, quando todos os dias, ao longo de longos anos, se consegue encontrar esse amor que se procura, na pessoa que se ama e no lugar e no tempo — aqui, agora, daqui a bocadinho — em que mais gostamos de encontrá-lo.
Hoje a Maria João e eu fazemos doze anos de casados e a única esperança que eu tinha— que se tornasse mais fácil acreditar na sorte que me coube na pessoa que ela é e na cegueira de olhar uma segunda vez para mim — acabou por ser mentira.
Há um castigo para tudo: até para a maior felicidade. É o medo não só que tudo acabe mas que se descubra, de alguma maneira, que nunca tenha começado. Por exemplo, se ela se apaixonasse por outra pessoa.
“Não vai durar, não pode durar, é bom de mais para durar”: é isto que repito no êxtase da minha alegria roubada ao sol, como se o nosso amor e a nossa vida um com o outro fossem um prazer retumbante com um fim à vista, naturalmente aceite quando chega, como comer um gelado.
Mas dura e, quanto mais tempo dura, mais medo tenho que esteja mais perto de acabar. Não há habituação possível a esta felicidade. Não há conforto nenhum na passagem dos anos por este amor.
Cada vez mais, torna-se a única coisa que peço a Deus e a ela: Maria João, por favor, não me deixes nunca.

Miguel Esteves Cardoso, Público, 30/09/2012


Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. Queridas Senhoras,

    na passado mês também eu e o Pedro celebrámos 12 anos de casados. Para festejar esse dia procurei na internet um texto que li escrito pelo MEC há 12 anos atrás sobre o casamento... lembro-me que eu e o Pedro estávamos os dois, recém-casados, à frente da Fundação Serralves a ler o jornal no carro antes de entrar para o museu.

    Poucos textos li como aquele, que exprimissem tão bem, de forma tão emocional e ao mesmo tempo tão clara, a razão pelo qual ele acreditava no casamento e porque tinha casado com a Maria João. Nunca mais encontrei essa crónica, mas muitas vezes penso nele, e espero daqui a 12 anos pensar neste.

    bjs a todas

    Mariana

    PS - Martinha, Obrigada!!!! Está o máximo.

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  2. Muitos parabéns pelos vossos 12 anos Mariana! Vou tentar descobrir a "tua" crónica, Entretanto conheces esta, dele, soe O segredo de um casamento feliz? www.publico.pt/Sociedade/cronica-um-segredo-de-um-casamento-feliz_1462647?all=1
    um grande beijinho

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  3. Belo texto e bela escolha musical Céu.
    Adoro Leonard Cohen e estou cheia de inveja da minha irmã que vai ver o concerto no dia 7!
    E como já disse no email também eu vou fazer 12 anos de casada,mais uma coincidência aqui nas Senhoras!

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  4. Querida Céu,

    obrigada, seria fantástico. Obrigada pelo outro texto, já conhecia, mas espero que consigas descobrir o primeiro. Na minha cabeça, ele era infinitamente mais bonito e touching... vida de recém-casada:))

    bjs

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