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Queridas Senhoras,
nas nossas ruas, ao amanhecer, num Dia de Natal, há tal melancolia que só o céu, azul por inteiro, e o brilho do Sol, evitam a soturnidade.
Nem uma agulha bulia quando sai de casa para a manhã gelada e silenciosa. Felizmente não há vento que arraste as sobras da noite anterior pelas ruas desoladas. O lixo acumula-se quieto junto aos caixotes e deixa-se ler. Continente, Fnac, Ikea (“iqueia” ou “iquêá”, tanto faz) – marcas com espinhas de bacalhau.
Numa caixa vazia lê-se “Frágil” e pode estar a falar dos nossos corações. Quem bebeu demais, quem falou demais, quem não disse nada, quem deu nas vistas, quem tentou passar despercebido, quem fez mais uma tentativa para as coisas darem certo, quem esteve sozinho acompanhado, quem acompanhou quem esteve só?
Foi só mais uma Consoada e hoje é Dia de Natal, temos mais uma oportunidade e se calhar ainda alguns presentes para abrir. (Já ninguém aproveita o papel de embrulho. Rasga-se tudo com fúria. E há papéis tão bonitos. E laços. Às escondidas, separo os menos danificados, aliso e guardo. Sem ninguém ver).
Como o MEC dizia numa crónica recente, ao domingo não se deve falar da segunda-feira. Muito menos num domingo de Natal. Ainda falta uma eternidade para segunda-feira. E um instantinho para o Fim de Ano, altura em que teremos novos desejos e despojos, novas oportunidades e ainda mais garrafas vazias.
Beijinhos a todas,
Céu
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