Miúdas



Queridas Senhoras,

Um artigo na revista do Público deste fim-de-semana, acerca da avalanche de análises, comentários e ilações à volta de “Girls”, uma nova série da HBO estreada há menos de um mês, deixou-me curiosa.

Quando uma série é alvo de tanta atenção e esmiuçamento, é normalmente porque agarra bem o ar do tempo, os tiques de uma classe, grupo ou geração.

Se fala de mulheres que podiam ser as nossas irmãs mais novas (vá, com boa vontade), a viver em Nova Iorque nos tempos de hoje, isso merece pelo menos uma espreitadela.

Descrita como o novo “Sexo e a Cidade” (a cidade é a mesma e sexo, naturalmente, não falta, embora descrito como "esquisito" e "mais do que um pouco repulsivo"), a série é a versão pobre, twentysomething, sem glamour e definitivamente sem dinheiro para Manolo Blahniks, da aventurosa vida que Carrie e as amigas levavam no final dos anos 90.

As quatro protagonistas de “Girls” têm empregos precários, baixa auto-estima e as expectativas lá em baixo. Nem sequer sonham com Mr. Big ou com qualquer príncipe encantado.

Ei-las:







Dissecada em diversos blogues, e em críticas, editoriais e artigos de jornais de referência, tem sido elogiada pelo seu realismo, por retratar fielmente o que sentem, o que pensam, como vivem, como se desenrascam e relacionam, nos dias de hoje, as jovens mulheres pós-universitárias, na mais fascinante (e implacável) cidade do mundo.

A maior crítica apontada é a da falta de representatividade de outras etnias, que não corresponde de todo à comunidade multirracial de Nova Iorque e ainda menos a Brooklin, onde grande parte da acção se desenrola.

Um ponto a favor, considerado ousado, é o facto da protagonista (Lena Duham, de 25 anos, também autora da série, uma menina prodígio já com dois filmes no curriculum) estar longe de preencher os requisitos do ideal feminino desta faixa etária (ou da anterior e da seguinte, já agora), propagado pela TV e pelos outros meios: não é especialmente bonita, tem peso a mais e come despudoradamente.

Ao ler sobre “Girls”, lembrei-me desta Miúda (neste caso com as medidas certíssimas) que por cá também tem dado muito que falar:







Beijinhos a todas vós, raparigas :)

Céu

Comentários

  1. Olá miúda! 1º) que fique registado em acta que estas miúdas são mesmo, MESMO, da idade da minha irmã mais nova! :)

    2º) Conheço bem a miúda que canta que dorme com quem ela quer. Para além de gostar da música (embora a letra precisasse de uma ligeiríssima edição), acho sempre graça a estes fenómenos. Quando a ouvi pela primeira vez, via FNAC Novos Talentos, pensei: ora aqui está uma coisa interessante de acompanhar. Como irá a portuguesice reagir a isto?

    Penso que seja o mesmo com a série, que não conheço. Quando uma mulher diz a verdade cai-lhe tudo em cima. O protótipo feminino no nosso país (e não só, claro) é cor-de-rosa e é mentira, mas quer prevalecer a todo o custo. Afinal, o que seria da nossa estrutura de valores se as raparigas dormissem com quem quisessem (rapazes ou raparigas) e fizessem coisas "esquisitas" na cama, se as mães tivessem dúvidas, se as esposas fossem infiéis, se as avós tivessem vida sexual?

    O universo feminino real não costuma ser muito bem imitado pela arte. Honras sejam feitas às excepções.

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  2. Queridas Senhoras

    confesso que fiquei com mixed feelings ao ler os vossos comentários sobre a série, que ainda nao vi, mas vou já tratar disso.

    Eu mesma nao estou segura, ou nao fico confortável, quando as vidas das mulheres sao retratadas de uma forma demasiado realista, exibindo todas as nossas lutas, frustrações e defeitos ao mundo, sem um pouco de glamour ou humor.

    A TV e o cinema ajuda-me a sonhar, a ambicionar mais, e quando os retratos sao demasiado realistas ou pouco inspiradores, fico sem saber como reagir.

    Muitas vezes prefiro entrar no mundo real através da leitura, num registo mais privado, e assim consigo saborear, digerir e reavaliar a minha própria condição de mulher.

    bjs

    Mariana

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  3. Miúdas, isto dá panos para mangas...podemos falar mais logo? :)
    Percebo o que dizes Mariana mas não sinto o mesmo. Adoro o realismo, o esmiuçar das fraquezas e medos, os diálogos intermináveis... Se tiver que escolher, prefiro a crueza do que a ilusão. Concordo com tudo o que dizes, Marta. E acho graça: uma série sobre rapazes de 20 e tal anos a lutarem pelo seu lugar no mundo, a sua vida amorosa e sexual, etc., seria quase de certeza uma comédia inócua, mais ou menos escabrosa.
    Agora com raparigas é outra história...tem logo outro peso, outra representatividade.
    Como se os rapazes pudessem fazer tudo, who cares?, e as raparigas tivessem que ter muito cuidado com cada passo que dão.

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  4. Mariana, percebo bem o que dizes, é o que eu sinto em relação às séries policiais. Adoro ver o Crime Disse Ela, adoro! E o Poirot, quando aparece. Adoro aquelas deduções lógicas e o aflorar, muito ao de leve, do dark side, sem lhe chegar a tocar e com um final feliz (leia-se, justo) sempre garantido. Já as séries mais escatológicas deixam-me completamente angustiada (e no entanto são as mais verdadeiras, há muita maldade no mundo, a protecção dos inocentes é quase uma ilusão e a justiça, então...)

    Mas no que toca às mulheres, eu até posso nem gostar de ver (não sou fã do Sexo e a Cidade, aquilo cansa-me) mas gosto que se diga a verdade, nua e crua. Exactamente por isso que tu dizes, Céu. Porque eles podem tudo e têm imensa graça ou então é de mau gosto, mas pronto, boys will be boys. Já elas... poder, até podem, enfim, isto agora são outros tempos, e tal... desde que não se veja.

    Um pouco de tudo. A Jane Austen dizia a verdade de uma maneira sublimemente elegante. O Woody Allen diz a "verdade psicológica" como nenhum outro, e é sempre bom, mesmo nos filmes menos brilhantes. E é sempre nu e cru, mesmo nos filmes mais doces e românticos. Pouco gráfico, mas nu e cru.

    Agora, se é para "retratar a actualidade", neste caso, das miúdas de vinte e tal anos nova-iorquinas middle-class e modernaças, então eu prefiro que seja a sério. Por elas, as twenties, não por mim, que se calhar nunca me lembrarei de ir ver essa série.

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  5. Queridas Senhoras

    a repensar no que escrevi.. só agora me apercebi de como melhor descrever o que sinto - é uma espécie de necessidade de "protecção da espécies" dos olhares menos sensíveis, sensatos, compreensíveis e maduros:))

    bjs!

    Mariana

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  6. Queridas Senhoras,
    ainda não tive tempo para ir investigar a serie,mas prometo que vou dar uma olhadela !
    Não prometo é que os meus comentários sejam tão profundos e literários como os vossos...
    Deixo-vos aqui a música que para mim simbolizou a minha " um -bocadinho-problemática " adolescência,um hino pessoal...

    Soup Dragons -I'm Free

    http://youtu.be/yljbcRu3tiU

    Não sei se foi por ter andado numa escola tão especial como a António Arroio,onde se respirava liberdade, sei que naquele dia,no fim do ano lectivo, em que decidi dar um mergulho na Fonte Luminosa e vir para casa literalmente encharcada foi porque era livre de fazer o que me apetecia!


    beijos

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  7. Susana, tu deste um mergulho e foste para casa encharcada. Ontem uma colega aqui no trabalho contou que assim que completou 18 anos, o que fez para sentir que era livre e podia fazer o que lhe apetecia foi...rapar o cabelo. Máquina 2. Diz que a mãe passou meses sem sair com ela à rua :)

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