Postal de férias IV - Às amoras pelo chão do rio



Minhas queridas Senhoras,

Pois não sei bem que encantamento é este. Cada vez mais forte, mágico e poderoso. Suponho que seja da idade e muito dos filhos, também.

Quando lá chego (à terra, à Aldeia Viçosa), a sério que o tempo se suspende. Tudo à volta se desvanece com incrível facilidade. Tudo o que não está ali, esmorece perante aquelas cores vibrantes, aqueles cheiros autênticos.

Seria capaz de ficar horas esquecidas só a escutar os mais velhos a desfiarem nomes. Nomes de lugares que me habituei a ouvir desde sempre, uns sei onde são, outros por acaso não, ficam ao fundo de estradas que não me lembro de ter percorrido.

(Onde fica o tefe-nofe, tia? E, já agora, é assim que se escreve? É que o google não reconhece o sítio, tia).

E agora chego lá e tenho ânsias de percorrer todos os caminhos, de seguir até ao fim de todas as estradas. Mas a ansiedade aqui não existe, a pressa é inútil.

O cimo do povo, as poldres, o fundo das quelhas (o google também não sabe deste, tia), os vales, o chão do rio, a ponte, a Quinta da Ponte, a Quinta de S. Mateus, a Quinta do Sr. Portas, a Faia, Pêro Soares, a Mizarela, Vila Soeiro, o moinho do Russo, a Tapada do Amarelo (este lembrei-me agora e só tem uma entrada no google), o Tintinolho.

O que me apetece, e isto não é em sentido figurado, é abraçar as casas de granito, beijar as pedras do rio, adormecer ao sol nos barrocos quentes das serranias.

Tenho seis anos e vou com as primas para o rio, levo para a merenda biscoitos da tia Odete. Pelo caminho vamos apanhando amoras.

Quem vai ali? Já não sou eu, é a Alice que tem seis anos, vai pelo chão do rio apanhar amoras. À merenda, come os biscoitos da tia Odete.

A porção de felicidade contida nisto tudo - no rio, nos biscoitos, nas amoras, na tia Odete – é tanta que me aperta a garganta quando penso nisso. Quando estou lá e quando relembro. Quanto tento fixar a memória, a imagem perfeita de uma menina de seis anos (eu, a Alice e outras de nós, que foram e serão meninas antes e depois de nós) a apanhar amoras e a comer biscoitos junto ao rio.

Um grande beijinho a todas e bom regresso à “vida real”,

Céu

Comentários

  1. Minha querida, ainda em S. Pedro de Moel e com dificuldade de deixar isto, leio e releio o teu post, saboreio os biscoitos da tia Odete, as amoras apanhadas no chão do rio, os nomes recheados e as deliciosas memórias. Obrigada pela partilha. É tão bom ler-te! :)

    Beijinhos muito grandes (amanhã envio um postal às Senhoras)

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  2. Muito obrigada querida! Aproveitem bem até ao último minuto este dias de pleno Verão, ainda. Cá esperamos amanhã o teu postal. beijinhos

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  3. [...] que me dão o desconto e já não estranham, que por esta altura do ano, chegue o meu relambório sentimental sobre a ida à aldeia. É todos os anos um bocadinho, tenham lá paciência. Falo sempre da paz e [...]

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