O mano tem muita sorte




Queridas Senhoras,

é o que a Alice costuma dizer quando a vida corre bem ao João: "epá, o mano tem muita sorte". Isto aplica-se quando ele pode ficar a ver o Panda e ela tem trabalhos de casa, quando ele come as suas bolachas preferidas e as dela acabaram, quando a vô Nanda não vai trabalhar e fica com o João na "escola do vô Nino" e a Alice tem de ir para a escola verdadeira.

O mano tem muita sorte, como a Alice também teve. Até aos três anos, foi sempre na "escola do vô Nino". Nada de sair de casa às 8h da manhã, apanhar chuva e trânsito, andar em correrias, levar com oito horas de colégio, chegar a casa quando é escuro. Nada disso.

A escola deles foi comer um queque na Florença logo de manhã, trocar dois dedos de conversa com o sr. Paulino, ir ao Pigale dizer olá aos companheiros de café, ir ao parque da Teresa e cumprimentar toda a gente que anda por ali, nas manhãs calmas no centro da Amadora que, em dias assim, com crianças que brincam no jardim com os avós, até parece uma aldeia.

Ir à biblioteca ler livros e contar histórias, brincar no parque da Academia, correr na pista, apanhar as folhas do Outono, abrigar-se da chuva, brincar nas poças, proteger-se muito bem quando está frio, ver a Primavera a chegar cada dia mais bonita, ter tempo para tudo como, pelo menos as crianças, devem ter sempre, tempo para a chuva, para o frio, para as folhas de Outono, para o sol de repente a brilhar, para a trovoada, só é pena que aqui nunca neve, não é Alice?

Depois ir para casa, brincar no sótão, tocar viola, desarrumar os brinquedos todos várias vezes, e isto só turno da manhã, ouvir histórias dos primos e dos coelhinhos da tia Odete. Fazer o almoço, dar a sopa aos "maus" e o "pote" aos bons. Ir ficando cada vez mais cansado até chegar a hora do soninho, tão bom ser menino.

"Tu és meu" - diz o João ao vô Nino.

O mano tem muita sorte, sim. Tem tanta sorte que só hoje, com três anos e meio feitos, um perfeito rapagão, entrou para a escola "mesmo". E tem tanta sorte que a escola "mesmo" fica pertinho de casa, o vô Nino pode ir levá-lo e buscá-lo, não tem de sair de casa às 8h da manhã nem passar oito horas no colégio. O mano tem tanta sorte que a escola dele, descobri hoje, até tem uma hortinha o que é o mais parecido que podemos desejar com aquelas escolas-meio-utópicas-que-não-sei-bem-se-existem-ou-não onde os meninos mexem na terra, plantam alfaces, cozem pão e assim :).




Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. Querida Céu,

    o João tem mesmo muita sorte! Com os pais que tem, com os avós que tem, com a mana que tem, com a família toda. Espero que a adaptação corra bem. Um beijinho muito grande :)

    Marta

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  2. Querida Céu,

    Como sempre com os teus posts, leio, leio e leio, e na manha a seguir leio uma vez mais, e ainda penso neles no chuveiro. Pois a verdade é que o mano tem mesmo muita sorte, e sabes que mais? Eu mesma gostava de ser o mano :)) De voltar a essa ternura e meiguice de ser criança e de ir para a escola do escola do vô Nino!!

    bjs a todas

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  3. Olá minhas queridas, o 1º dia do João correu bem mas os seguintes nem por isso...têm choramingado todos os dias a dizer que não quer ir para a escola. Vamos esperar que passe depressa :) muito obrigada pelas vossas palavras carinhosas.
    beijinhos

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