Morno e previsível

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Queridas Senhoras,

O Jogo da Imitação, nomeado para Melhor Filme, que conta a história do matemático e criptógrafo Alan Turing, responsável pela decifração do código de comunicações dos alemães na II Guerra Mundial, interpretado pelo actor britânico do momento Benedict Cumberbatch, é uma desilusão. Não há outra forma de o dizer.

Ainda que tenha gostado da interpretação de Cumberbatch, e que a personagem com a sua inadequação social me mereça toda a simpatia, o filme padece do tal problema: nem por um momento me faz tirar os pés do chão.

Mas o que é que se passa com os filmes hoje em dia? Ainda sou do tempo em que os candidatos aos Óscares eram filmes poderosos, arrebatadores. (Dizem-me que Birdman é esse filme mas ainda não foi desta. E a estrela solitária atribuída pelo Jorge Mourinha pôs-me de pé atrás).

Naturalmente, não é que não tenha gostado do filme (sinto que me ando a repetir com esta conversa). Seria perfeito para uma noite calma de cinema em casa, com um enredo interessante o suficiente para não adormecer, uma personagem carismática e óptimos secundários.

A história é absolutamente linear. A previsibilidade é esmagadora. Sabem aquelas frases inspiradoras, motivacionais que às vezes são ditas nos filmes, para marcar um momento muito simbólico e carregado de emoção? N' O Jogo da Imitação essa frase é dita pelo menos três vezes! E nem sequer é assim tão boa (qualquer coisa como “aqueles de quem ninguém espera nada, são normalmente aqueles que fazem as coisas que ninguém espera”.)

Não me interpretem mal. Não sabia nada sobre Alan Turing e fiquei sensibilizada com a sua história (ele suicidou-se pouco depois dos 40 anos em virtude de ter sido obrigado pelo tribunal a fazer um tratamento hormonal contra a homossexualidade, o que o destruiu). Mas disso poderia ter ficado a saber através dos livros. (Algumas cenas conseguem comover-me ligeiramente. Não as mais óbvias mas por exemplo aquela em que Alan, depois da sua amiga, a também matemática Joan (Keira Knightley) lhe sugerir que para os colegas colaborarem com ele é talvez conveniente que gostem dele, Alan apresenta-se no laboratório com um saco de maçãs. Oferece uma a cada um e, de enfiada, conta uma anedota. Contentes? Podemos voltar ao trabalho?)

É de alguma forma irónico que um génio desajustado e brilhante seja homenageado através de uma obra tão mediana.

Beijinhos a todas,

Céu

 

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