Crianças à solta no Dia Internacional do Brincar


 

Queridas Senhoras,

acabo de descobrir que hoje é Dia Internacional do Brincar. Coincidência ou não, esta manhã vinha a ler, no comboio, um artigo sobre um livro recentemente publicado, chamado Kith: The Riddle of the Childscape de Jay Griffiths, uma escritora premiada, também autora de Wild: An Elemental Journey.

Em poucas palavras, o livro parte desta questão: por que é que as nossas crianças se sentem tantas vezes tristes e infelizes? Simplificando, há estudos que demonstram níveis elevados de infelicidade nas crianças das sociedades ocidentais. Quando se lhes pergunta do que é que elas sentem falta, a resposta não são mais brinquedos ou qualquer tralha tecnológica. É espaço, é sair de casa. Segundo Jay, o que lhes falta é o espaço vital – as florestas, os bosques, os rios, as montanhas, o campo aberto, os Verões infinitos. “Kith” é uma palavra arcaica que na origem significava o “nosso território”.

O meu território era o quintal e a rua da minha avó, durante o ano, e a aldeia, nas férias. Não tenho memória nenhuma dos adultos me virem chamar, dizer que não podia fazer isto ou aquilo. É incrível porque hoje acho que fazia coisas perigosas (na praia, no rio, pelos caminhos) e não me lembro de grandes advertências ou cuidados. Recordo os avisos quando me enfiava nas ondas da Costa de Caparica e pouco mais.

A autora considera que as crianças do mundo ocidental vivem numa espécie de prisão domiciliária, rodeadas de ecrãs e gadgets, com um horário apertado e rígido de tarefas e actividades a cumprir. Isto faz lembrar alguma coisa… ah, pois, é a nossa vida, a vida dos adultos. Que as crianças comecem desde pequenas a viver assim, entaladas em rotinas asfixiantes, é desolador. Para além destes constrangimentos, existem os constantes avisos sobre os vários perigos, materiais e humanos. Os desconhecidos, os maus, os carros, o lixo, os bichos.

Pese embora eventuais exageros, uma visão demasiado utópica ou romântica da infância, acho que nunca é demais recordar que aquilo de que as crianças mais precisam é, afinal, tão simples: tempo e espaço para brincar ao ar livre, autonomia para fazer as suas descobertas e, sim, correr alguns riscos.

Beijinhos a todas

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