Dores de crescimento

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Queridas Senhoras,

tenho um post na calha sobre o envelhecimento, a Céu lançou o tema no facebook e eu tenho tanto, mas tanto para dizer sobre o assunto! Hoje, no entanto, volto ao gasto tema da maternidade, porque os blogues imitam a vida.

Em primeiro lugar, acho que me é devido avisar a navegação das turbulentas águas que constituem o meu humor, ultimamente. Estou sem pachorra. Não é nada de novo, é uma característica minha muito antiguinha. Sou bicho-do-mato, sempre fui, mas também sou sociável, sempre fui (sou geminiana, sempre fui). Quando perco a pachorra, isolo-me e espero que passe. Plenamente consciente deste meu estado, prossigo na narrativa.

A mudança do Francisco da creche para o Jardim de Infância foi dura. Claro que, agora, olhando para trás, parece que até nem custou nada e que ele se habituou num instante. Mas foi dura, sim. Sobretudo, porque mexeu muito com os ritmos fisiológicos dele, o sono e as idas à casa-de-banho. Os Jardins de Infância aboliram as sestas há poucos anos, porque, aparentemente, a falta de espaço ou de tempo ou seja lá o que for dos equipamentos é mais importante do que a sanidade das nossas crianças. E o Francisco era muito apegado à sesta dele. Agora já a deixou de lado, mas a custo de adormecer às 20h30, o que implica jantar às sete, o que implica tomar banho às seis, seis e pouco (e depois algumas manobras de diversão para não adormecer sem jantar).

Nas últimas semanas optei por ir buscá-lo às 15h30. Assim lanchamos juntos, passeamos (se for caso disso), brincamos, trabalhamos (cada um na sua área) e chegamos ambos ao fim de cada dia mais satisfeitos. Claro que eu só posso fazer isto porque tenho tempo e autonomia para geri-lo. Não digo que não me obrigue a alguma ginástica, mas a verdade é que o faço com um imenso prazer e com uma profunda noção de que há que aproveitar, aproveitar ao máximo.

Este novo ritmo também ajudou a equilibrar os ritmos internos do Francisco. Os cocós fazem-se já em casa, depois do lanche, e é muito raro ele adormecer na escolinha.

Há dois dias por semana em que o caso muda de figura: segunda-feira há Música e quinta-feira há Inglês. O garoto adora música e tudo o que tenha a ver com música. Os presentes de Natal que ele pediu, este ano, ao Pai Natal, incluem um violino, um violoncelo, um trombete que toque baixinho, címbalos e um microfone. Mas ultimamente tem dito que não gosta das aulas de Música. Gosta do professor mas não consegue cantar ('cantam muito depressa'), não gosta de dançar, toca sempre 'pauzinhos', etc.

Ao fim de algumas queixas repetidas, pus-me a pensar: porque é que o inscrevemos na Música? Porque ele adora e iria divertir-se imenso. Então mas se ele não adora nem se diverte, what's the point? E sim, eu sei tudo sobre os benefícios da educação musical. Mas acreditem quando vos digo que ele não tem falta de 'educação musical' na vida dele; de outra forma, como iria um garoto de 3 anos querer címbalos e um violino?

Hoje tentei falar com o professor de música sobre o assunto. Pedi-lhe um minuto e disse-lhe que o Francisco andava a dizer-nos que já não gostava das aulas e que preferia não ir. A minha ideia até era dizer-lhe que tinha combinado com o Francisco que eu iria assistir à próxima aula de música para tentar ajudá-lo a descobrir formas de apreciar mais aqueles momentos, que têm vários ingredientes que ele adora. Mas não cheguei lá, porque a reacção do professor foi, embora em tom leve e educado, condescendente. E se há coisa para a qual eu não tenho pachorra é para a condescendência. O que eu retive:

1º) 'O facto de ele dizer que não gosta não quer dizer que o problema seja do professor ou da Música'

2º) 'Ele de facto às vezes choraminga, tem sono, ele é muito pequenino'

3º) 'Eu não valorizo e acho que os pais também não devem valorizar'

4º) 'Os pais em casa é que têm que lhe transmitir que quando o professor diz que é para trabalhar, é para trabalhar'

Caro professor, cá em casa valorizamos tudo. O tempo que temos e a forma como o passamos, o dinheiro e a forma como o gastamos, o bem-estar da família, dentro e fora de casa. Se o Francisco não consegue acompanhar as aulas porque é pequenino e tem sono (e se aborrece por tocar só pauzinhos), não me parece que esta seja uma forma muito produtiva de empregar o tempo dele e o nosso dinheiro. E não, não lhe vamos transmitir nada disso. Vamos transmitir-lhe que havemos de encontrar uma aula de música que se adapte ao ritmo, aos interesses e às potencialidades dele. Não lhe ocorreu essa possibilidade?

E, entretanto, ganhámos mais uma tarde por semana para passarmos juntos.

Beijinhos a todas!

PS: Pronto, podem começar a opinar, eu prometo que me porto bem...

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