Queridas Senhoras,
o nosso convidado de hoje é o jornalista João Morales (n. 1970), com uma longa actividade desenvolvida em torno dos livros. Começou em 1993, escreveu em várias publicações, dirigiu a revista Os Meus Livros. Colabora actualmente na revista Time Out e é programador de vários eventos literários, como o ciclo de tertúlias Confesso que Li (Almada), os encontros Viver (com) a Escrita (Santiago do Cacém) e o festival Livros a Oeste. É aqui que vamos encontrá-lo por estes dias, já que a 7.ª edição do festival da Lourinhã decorre de 8 a 12 de Maio. Este ano o tema é «Por Amor - Escrever, Ler e Viver». A fazer-lhe companhia vão estar, entre outros, Afonso Cruz, Álvaro Domingues, Filipa Martins, Isabela Figueiredo, João Tordo, Joana Amaral Dias, Joana Bertholo, Margarida Vale de Gato, Rui Zink e Valter Hugo Mãe. A programação completa pode ser consultada aqui.
1. O que está a ler neste momento?
Nestes precisos dias, estão a ser devidamente saboreados A Tua Casa será o Fogo (de Nuno Camarneiro; Dom Quixote) e, logo em seguida entrará na calha, Contos Elétricos (de Philip K. Dick, em edição da Relógio D’Água).
2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?
Acabei de ler em minúsculas, uma recolha de textos de Herberto Helder publicados na revista Notícia, em Angola, em 1971. Uma surpresa; posso garantir a todos. Sátira, consciência social, crónica de costumes, apelos a uma sociedade mais hedonista e uma escrita de primeira água. Só mesmo quem teve acesso à imprensa de há 47 anos (nem mesmo o filho, Daniel Oliveira, os tinha lido) conhecia estes textos, que a Assírio & Alvim reúne agora em livro.
3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros
Quando era muito miúdo, devorava os livros de Walt Disney e as BD do Capitão América, Fantasma, Mandrake, Ric Hochet… foram uma enorme escola de leitura. A minha mãe ia ao talho, eu escapava-me para a livraria do lado, ou para a loja de livros em segunda mão que havia ao fundo da Heliodoro Salgado (era do pai do sr. António, a leitaria onde minha mãe ia). Quando ela me ia descobrir por lá, a pedincha era invariável, havia sempre alguma coisa de novo. E o truque era sempre o mesmo. “Nunca me compraste dois livros no mesmo dia!”, choramingava eu. Ou então, “mas este é novo!!!”
4. Que livros marcaram a sua adolescência?
Todo o Almada Negreiros e Jorge Luis Borges; Jean-Paul Sartre (mas terei de lá voltar um dia, foi cedo de mais…), Boris Vian (em especial, O Arranca-Corações), O Lobo das Estepes (Herman Hesse); Ana e o Tio Deus (de um obscuro Fynn, publicado em Portugal pela Ulisseia reeditado pela Editorial Presença com o título Senhor Deus, esta é a Ana), António Gedeão, José Gomes Ferreira e muita BD, como as aventuras de Bruno Brazil (infelizmente, só três estão traduzidos em Portugal).
5. Um local público onde goste de ler
Jardim da Paiva Couceiro; Jardim do Príncipe Real; Quiosque da Praça de Campolide; varanda do Cinema São Jorge. Não gosto de ler na praia.
6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)
O maple da sala. Não gosto de ler deitado.
7. Uma biblioteca importante para si
Biblioteca Municipal da Penha de França, de onde trouxe as aventuras de Os Cinco, Os Sete, O Gordo (a Colecção Mistério, da Enid Blyton com um jovem detective de 15 anos que era especialista em disfarces).
8. As livrarias que costuma visitar
Buchholz, Ler Devagar, Sá da Costa, feiras, alfarrabistas (bom, a Sá da Costa é um deles…)
9. Uma editora de que goste particularmente
É difícil responder… Arrisco algumas (que me desculpem as restantes): Assírio & Alvim, Cavalo de Ferro, E-Primatur, Polvo, Arte de Autor, Fenda, Kalandraka…
10. Que livros gostaria de reler?
Trabalho com livros, ler faz parte da minha vida (profissional, pessoal, uma e a mesma tantas vezes), consequentemente, tenho muitíssimo pouco tempo para reler, em especial, os ditos «calhamaços». Juntando estes dois dramas, gostava de reler Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein.
11. Que livros está a guardar para ler na velhice?
Ulisses? Quiçá… e muitos outros que irei descobrindo, certamente.
12. Acessórios de leitura que não dispensa
Óculos, lápis, caneta (sublinho nos livros, a lápis, e tomo algumas notas em papel, a caneta, que ficam depois no interior do livro). Se for na rua, uma “bica” é imprescindível.
13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?
Por motivos profissionais, já tive de acompanhar alguns até ao precipício…
14. Costuma ler sobre livros? quais são as suas fontes?
Em Portugal, o espaço para ler sobre livros diminuiu vertiginosamente nos anos mais recentes. Dirigi uma revista mensal de 84 páginas, Os Meus Livros. Hoje, em papel, temos uma única revista, a LER (trimestral) e algumas escassas páginas sobre livros.
15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade
Para hoje, uso a epígrafe de José de Almada Negreiros, criada para encimar MIMA-FATÁXA – Sinfonia Cosmopolita e Apologia do Triângulo Feminino: «A ti para que não julgues / que a dedico a outra»
Beijinhos a todas,
Céu
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