Queridas Senhoras,
a nossa convidada de hoje é blogger, community manager, produtora de conteúdos e criativa para projectos digitais. Funções bem à medida dos novos tempos, típicas da geração nascida nos anos noventa do século passado. Raquel Santos Silva nasceu em 1992, é licenciada em Ciências da Comunicação e tem feito de tudo um pouco nesta área. Mantém o blogue literário Leituras Marginais «para manter viva a recordação de cada livro».
Estou a ler um clássico da Virginia Woolf, To the Lighthouse. É um livro difícil, muito descritivo e contemplativo, mas está a ser uma leitura interessante. Entretanto passei na Biblioteca das Galveias e não resisti a trazer um livro que sempre quis ler mas ainda não tinha tido oportunidade, O Velho que Lia Romances de Amor de Luís Sepúlveda. E comecei também a lê-lo!
2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?
O livro que li antes foi A Boneca de Kokoschka, de Afonso Cruz. A literatura portuguesa continua a surpreender-me pela positiva e o Afonso Cruz é sem dúvida um dos meus autores favoritos desta geração de incrível talento para nos conquistar através da escrita e de histórias aparentemente simples mas fascinantes. Nunca sei o que vou ler de seguida, é sempre um exercício de descoberta na estante que terá muito a ver com o estado de espírito na altura. Mas gostava muito de, regressando à literatura portuguesa, pegar no novo romance do João Tordo, Ensina-me a Voar sobre os Telhados, que está a chamar por mim desde que o comprei.
3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros.
Tenho várias, muitas relacionadas com livros de banda desenhada que tinham sido da minha mãe quando era pequena e que ainda hoje habitam a casa dos meus avós, que li e reli milhares de vezes. Mais tarde, por volta dos 10 anos, quando comecei a ler os livros do Harry Potter, tendo já nessa altura descoberto a leitura, comecei também a descobrir a escrita e como me dava prazer escrever, imaginar, criar algo novo com base em algo que já existia. E peguei em muitas ideias do Harry Potter, e misturei-as com a minha memória do filme do Peter Pan, e escrevi um mini conto, muito básico mas muito criativo, sobre um grupo de crianças que saía pela janela a voar magicamente e ia ter, entre outros lugares mágicos que conhecia de filmes e outros livros, a um bar onde estavam o Harry, o Ron e a Hermione. Acho que foi a primeira vez que percebi a influência dos livros sobre mim e o que gostava de fazer no futuro.
4. Que livros marcaram a sua adolescência?
A adolescência foi uma altura da minha vida em que descobri verdadeiramente o gosto pela leitura, por isso li um bocadinho de tudo nesta fase, desde romances lamechas do Nicholas Sparks aos best-sellers do Dan Brown. O livro que talvez me tenha marcado mais foi o Memorial do Convento, já aos 17 anos, o meu primeiro contacto com José Saramago e uma leitura obrigatória na escola que depressa deixou de o ser para mim, à medida que me fui apaixonando pela sua escrita e pela história que contava.
5. Um local público onde goste de ler
Gosto muito de ler em parques ou jardins, em dias mais soalheiros, numa mantinha sobre a relva. Adoro ficar a ler nos espaços verdes da Feira do Livro de Lisboa depois de mil voltas ao recinto e algumas compras especiais, e ficar a ver as pessoas a passar e a apaixonarem-se pelos livros a cada banca por que passam. Mas na verdade consigo ler em qualquer lado, e no dia-a-dia agitado o local onde costumo conseguir ler mais é nos transportes públicos, nas viagens casa-trabalho, trabalho-casa.
6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)
No sofá da sala, com gatos sobre as pernas :)
7. Uma biblioteca importante para si.
A Biblioteca Palácio Galveias, por ter sido a primeira que visitei. Mas na verdade gosto muito de todas as Bibliotecas Municipais de Lisboa, sobretudo da Biblioteca dos Olivais (que tem uma Bedeteca muito rica) e da pequenina Biblioteca dos Coruchéus.
8. As livrarias que costuma visitar.
Frequento muito a FNAC do Chiado, que acaba por ter uma grande oferta de livros e onde gosto de me sentar a ler uma novela gráfica ou a escolher os próximos livros a comprar. E gosto muito das lojas Bertrand mais tradicionais, como a do Chiado ou a da Av. de Roma, onde passo muitas vezes só para ver as novidades ou assistir a algum evento com autores.
9. Uma editora de que goste particularmente
Tenho um grande carinho pela Penguin Random House, porque tem alguns dos meus autores portugueses favoritos e todos os livros que li por ela editados foram de alguma forma especiais para mim. Depois, considero a Antígona uma editora muito importante, pela qualidade dos livros que publica e pelo posicionamento disjuntivo que tem no mercado editorial. E também a Relógio d’Água, com edições sempre muito interessantes, tanto para adultos como para um público infanto-juvenil, tem livros de que gosto muito.
10. Que livros gostaria de reler?
Não tenho por hábito reler livros, por sentir que ainda tenho tanto para ler e aprender que preciso de aproveitar esse tempo para conhecer novas literaturas. Ainda assim, gostava muito de reler alguns livros que me marcaram muito e que já li há muitos anos, como por exemplo A Paixão do Jovem Werther, de Goethe, Madame Bovary, de Gustave Flaubert, ou Brideshead Revisited, de Evelyn Waugh. Outro livro que li mais recentemente, que recomendo sempre e que penso que gostaria um dia de reler, é O Mundo de Ontem, uma longa autobiografia de um dos meus escritores favoritos, Stefan Zweig.
11. Que livros está a guardar para ler na velhice?
Não propriamente para a velhice, mas há livros que sinto que ainda não tenho maturidade suficiente, ou tempo suficiente para lhes dedicar, como merecem… por exemplo Os Miseráveis, de Victor Hugo, que comecei a ler mas não consegui passar da página 200 (são 1200). O Ulisses, de James Joyce, ou Os Versículos Satânicos, de Salman Rushdie, ou ainda A Divina Comédia, de Dante, são outros que penso que ainda não tenho coragem para pegar. Mas quem sabe, daqui a uns anos, antes da velhice, talvez consiga dedicar-me verdadeiramente a eles.
12. Acessórios de leitura que não dispensa
Óculos, sem dúvida, até porque sem eles não conseguiria ler. Um marcador de livros também, porque não gosto nada de estragar os livros que leio. E, nesse sentido, a capa protectora é também uma acessório indispensável, sobretudo para quem, como eu, lê muito fora de casa, nos transportes públicos, às vezes em dias muito ventosos. Para anotar as páginas favoritas, nunca uso lápis ou algo que marque mesmo os livros, costumo apenas dobrar ligeiramente os cantos superiores das páginas que me disseram mais.
13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?
Depende do livro, às vezes acho que mais vale deixá-lo de lado e voltar a pegar-lhe mais tarde. Na maioria das vezes, no entanto, por experiência própria, penso que nunca mais lhes voltamos a pegar. Por vezes mais vale insistir e deixá-lo ir até ao fim, até porque ainda nos pode vir a surpreender. Costumo deixar mais de lado livros de contos, por exemplo, que o deixar de lado não implica deixar uma história a meio.
14. Costuma ler sobre livros? Quais são as suas fontes?
Gosto muito de ler sobre livros e sobretudo sobre escritores e sobre a escrita. Li recentemente o On Writers and Writing - Negotiating with the Dead da Margaret Atwood, que fala muito dos papéis do autor, do livro e do leitor sobre uma obra que nunca é criada apenas por um deles, sobre a forma como um livro perdura mais que o seu autor e como isso é único na arte, e também no desdobramento de escritor em homem e autor, que são “pessoas” diferentes. Como gosto muito de escrever, este tipo de livros acaba por ser a minha principal fonte de inspiração para saber mais sobre a literatura.
15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade
Dedico uma citação do Hotel Memória, de João Tordo, que fala um pouco sobre a falibilidade das recordações quando apenas são guardadas na memória. E é isso que acho que todos adoramos nos livros: o facto de deixarem para sempre escrita uma história que poderemos revistar sempre que quisermos.
«Tudo era memória. O presente era a memória de si próprio, e era possível existir apenas se pudéssemos conservar as recordações de momentos que nunca se repetiriam. E, no entanto, pararoxalmente, a memória era aquilo que de mais falível um homem possuía: nomes esquecidos ou trocados, caras que se confundiam com outras, lugares onde julgávamos já ter estado, um lápis desaparecido para sempre, os constantes deslizes que tornavam a realidade o lugar de um romance, de uma história, encantadora pela sua fiabilidade, e não pela sua certeza.»
Beijinhos a todas,
Céu
Conheci o vosso blogue através do Escrever é Triste do Manuel Fonseca e é já dos meus favoritos. Em relação à entrevista, muito boa, quero dizer que o Stefan Zweig é um autor do qual li quase toda a obra quer as novelas, biografias ou ensaios. Gostaria de reler o "Mundo de Ontem". Mas li recentemente "Três Poetas da Própria Existência"sobre Casanova-Stendhal-Tolstoi. Sobre o mesmo autor e para os aficionados aconselharia a biografia do escritor brasileiro Alberto Dines "Morte no Paraíso".
ResponderEliminarOlá Albertino, muito obrigada pela sugestões. Continue acompanhar o blogue pois vamos tendo novos convidados.
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