Os leitores falam às Senhoras: Pedro Miguel Silva (Deus Me Livro)



Queridas Senhoras,

hoje falamos com o fundador do Deus Me Livro, um blogue sobre Literatura, Música e Cinema. Assim mesmo, tão ambicioso quanto isso e com um número de seguidores muitíssimo respeitável (mais de seis mil). O setubalense Pedro Miguel Silva é licenciado em Ciências da Comunicação, trabalha como promotor de eventos na Câmara Municipal de Palmela e desde 2014 «mantém a sanidade em níveis domesticáveis» com a ajuda do blogue. Não apurámos como fazia antes para se manter saudável mas sabemos que ajudou a fundar uma biblioteca e trabalhou num ginásio, o que explica alguma coisa.


1. O que está a ler neste momento?

Tenho por hábito ler vários livros ao mesmo tempo, desde que não tenham lugar no mesmo universo. De momento tenho entre mãos os seguintes: Florinhas de Soror Nada (D. Quixote), de Luísa Costa Gomes; Nuvem de Cinzas (Topseller), de Ragnar Jónasson; O Imortal Punho de Ferro: As Sete Cidades Capitais do Céu (G. Floy), escrito por Ed Brubaker e Matt Fraction; e Pátria Apátrida (Quetzal), que reúne ensaios de W. G. Sebald, autor por quem tenho uma grande admiração.

2. O que leu antes e o que vai ler a seguir?

Na última semana terminei o sexto volume do mangá One-Punch Man (Devir), o recomendado Ensina-me a voar sobre os telhados (Companhia das Letras), de João Tordo, e Sangue na Neve, um policial de Jo Nesbo. Na lista de espera estão mais de cinquenta, mas os próximos serão estes: Atlas das Viagens e dos Exploradores (Planeta Tangerina), de Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho; Tu não és como as outras mães (Alfaguara), de Angelika Schrobsdorff; Cair para dentro (Abysmo), de Valério Romão; A Tempestade (Elsinore), livro de contos de Marina Perezagua; e BDs como Dragomante - Fogo de Dragão (G. Floy), de Filipe Faria e Manuel Morgado, ou o primeiro volume de Os Malditos (G. Floy), com argumento de Jason Aaron.

3. Conte-nos uma memória de infância relacionada com livros

Lembro-me especialmente de ler a trilogia de O Senhor dos Anéis de uma forma compulsiva e algo alucinada, não largava os livros nem mesmo às refeições. Acho que foi a minha primeira experiência-limite no que toca à literatura, de me perder por completo dentro de um livro estando com ele de manhã à noite. Não terá sido propriamente na infância, mas deve ter sido quando tinha os meus 14 anos.

4. Que livros marcaram a sua adolescência?

Numa fase mais precoce os livros de Os Cinco e de Os Sete, bem como a sua recriação portuguesa através da série Uma Aventura. Muita banda desenhada: Astérix, Michel Vaillant, Spirou e Fantásio, Lucky Luke, os comics americanos, toda a BD Disney e séries brasileiras como as Aventuras da Turma da Monica. A História Interminável foi um livro bastante importante, que serviu de trampolim para a literatura fantástica, um género de que tanto gosto. A série Histórias Extraordinárias, um livro-jogo que é das coisas mais fixes de se ler - e jogar - em criança. Muitos livros da Agatha Christie e policiais de bolso da saudosa Vampiro, que felizmente está de regresso às livrarias pela Livros do Brasil. E, para rematar, O Senhor dos Anéis, que li, ao contrário do que Reininho e os seus GNR cantam em "Sub-16", muito antes de chegar aos 16 anos e de forma compulsiva. Depois a fase final da adolescência, onde entraram já livros como 1984 ou Admirável Mundo Novo.

5. Um local público onde goste de ler

Leio praticamente em todo o lado, ando sempre com um livro na mala para os tempos mortos - não uso o smartphone como muleta temporal. As minhas horas de almoço, por exemplo, dividem-se entre um café e a Biblioteca de Palmela, sempre na companhia de um livro - e da Sofia, a minha colega com quem há já alguns anos partilho a leitura na hora de almoço.

6. O seu recanto preferido de leitura (em casa)

Uma cadeira ao estilo chaise longue que tenho na sala.

7. Uma biblioteca importante para si

A Biblioteca Municipal de Palmela, onde aproveitei para ler muitos dos clássicos que tinham ficado esquecidos.

8. As livrarias que costuma visitar

Em Setúbal costumo espreitar muitas vezes a Culsete, a livraria mais antiga da cidade. Quando vou a Lisboa e tenho oportunidade gosto de passar algum tempo nos alfarrabistas, essas igrejas literárias condenadas ao esquecimento.

9. Uma editora de que goste particularmente

Como editor de um site tenho uma relação privilegiada com praticamente todas as editoras nacionais. Tenho uma predilecção muito antiga pela Antígona, editora com quem descobri muitos autores e com quem partilho, de certa forma, uma visão libertária da política e da vida. A Companhia das Letras Portugal e a Alfaguara têm publicado romances muito interessantes nos últimos anos, bem como a Elsinore, a costela mais literária da 20|20 Editora. É também gratificante trabalhar com editoras infantis: a bruaá, sempre original, a Kalandraka, que entre outras coisas nos tem trazido a obra genial de Maurice Sendak,  a Planeta Tangerina, pelo seu lado didáctico e extremamente aventureiro, e a Orfeu Negro, que nos tem trazido alguns dos mais excitantes autores e ilustradores internacionais como Oliver Jeffers ou, mais recentemente, Benji Davies. A Quetzal, que reúne autores nacionais e internacionais de primeira linha. A Dom Quixote por, para além de publicar novos autores, não esquecer a reedição dos clássicos, trazendo-os até junto das novas gerações. A G. Floy, por nos trazer o que de mais excitante vai acontecendo no actual panorama dos comics americanos. A Devir, por à mangá juntar algumas das mais excitantes novelas gráficas que vimos editadas em Portugal nos últimos anos. Ou a Abysmo, pela forma muito própria de estar nessa complicada vida de editar livros.

10. Que livros gostaria de reler?

O Pintassilgo, de Donna Tartt, 1984, de George Orwell, Moby Dick, de Herman Melville, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. E, claro, O Senhor dos Anéis.

11. Que livros está a guardar para ler na velhice?

Os sete volumes de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust.

12. Acessórios de leitura que não dispensa 

Caneta e régua, para sublinhar. E papel, se for para escrever uma opinião.

13. E se um livro não prende, põe-se de lado ou insiste-se?

Com tanto que há para ler, o melhor é mesmo arrumar e partir para outro. Sem qualquer sentimento de culpa.

14. Costuma ler sobre livros? Quais são as suas fontes?

Sendo também crítico literário, evito espreitar outras críticas antes de escrever as minhas. Infelizmente os jornais dedicam cada vez menos espaço aos livros e, quanto aos suplementos - quando os há -, entraram há muito em dietas. Mas continuo a espreitar o Expresso, o DN e o Público. Gosto de ler os textos de gente como José Mário Silva, João Céu e Silva, José Riço Direitinho e Isabel Lucas - esta última autora do magistral Viagem ao Sonho Americano".

15. Uma citação inesquecível que queira dedicar às Senhoras da Nossa Idade

«Percebemos, finalmente, que as raparigas eram, na verdade, mulheres disfarçadas, que compreendiam o amor e até a morte, e que a nossa tarefa era simplesmente a de criar o barulho que parecia fascina-las tanto.»
As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides




Beijinhos a todas,


Céu

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