Entre parênteses

manifesto-focus

Queridas Senhoras,

este post vem um pouco na sequência do anterior, assinado pela Céu, sobre os cartões de agradecimento manuscritos e as pequenas atenções que tão bem nos sabem.

Porque é que estes gestos nos evocam tempos idos? Escrever uma carta, fazer um bolo para oferecer aos novos vizinhos, tricotar um cachecol... (destes, só me coube em sorte habilidade para executar o primeiro). Todos eles implicam oferecer dois bens preciosos e raros: tempo e atenção. Tempo e atenção, os diamantes do séc. XXI.

Soube-me muito bem ler as palavras da Céu, tal como me soube bem reservar algum tempo e toda a atenção para agradecer às pessoas que coloriram o meu sábado em Lisboa. Um compromisso de trabalho, um horário muito apertado, e ainda assim tantas visitas boas e surpresas doces.

Escrever à mão tem, para mim, essa qualidade absolutamente única a que aprendi a chamar, desde quinta-feira passada, foco. Reparem, tivesse eu escrito este post à mão e não o teria interrompido para modificar o layout do blogue...

Foco é o título do mais recente livro de Daniel Goleman, um psicólogo e jornalista brilhante, responsável, entre outras coisas, pela mudança estrutural operada nas nossas sociedades com a introdução do conceito de inteligência emocional.

"O pensamento profundo exige a sustentação de uma mente focada. Quanto mais distraídos estivermos, mais superficiais serão as nossas reflexões: de igual modo, quanto mais curtas forem, maior probabilidade terão de ser triviais." (GOLEMAN, 2014, p.27)

A minha leitura ainda vai no início, mas já me sinto à vontade para recomendar este livro a toda a gente. O multitasking é altamente sobrevalorizado nesta nossa era, sobretudo quando alguma das tarefas envolve interacção com pessoas. Contra mim falo, que sou geneticamente multitasker. Percebo agora que sempre precisei da escrita (e, nalgumas situações, da manuscrita) para abrir um parênteses nesta euforia informativa e pensar melhor, comunicar melhor, estar melhor.

Com a leitura passa-se o mesmo. Vivo colada a computadores há 14 anos e, no entanto, quando preciso mesmo de absorver um texto, tenho que lê-lo em papel, sem distracções, sem links, sem sidebars nem rodapés em cores diferentes. Só eu e as palavras.

Como quando escrevo um cartão de agradecimento ou descubro um postal manuscrito na caixa do correio. Só eu e as palavras, que me levam até alguém ou me trazem alguém, e o tempo e a atenção devidos para saborear o encontro tal como ele merece.

Como eu não sou exemplo para ninguém, quem preferir ouvir da boca do próprio Daniel Goleman o que vem a ser isto do foco, tem aqui uma conferência extraordinária.



Não resisto a rematar com uma citação deliciosa, da página 11: "como diz Yoda, «o vosso foco é a vossa realidade»".

Que o foco esteja convosco. Beijinhos,

Marta

Comentários

  1. [...] a ver com questões que já tantas vezes falámos aqui: o que fazemos do nosso tempo (e espaço), como não perder o foco, não nos distrairmos do essencial, [...]

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