O costureiro de palavras

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Alerta: os mais picuinhas poderão considerar que este texto contém spoilers sobre o filme Her de Spike Jonze.


Queridas Senhoras,

ontem fui ver o Her de Spike Jonze, que em português recebeu o título Uma História de Amor (atenção que estão actualmente em exibição dois filmes  com o mesmo título, o outro chama-se, no original, Winter’s Tale).

Parece que o filme está a dividir a crítica e o público. Por cá, há quem dê de uma estrela (Vasco Câmara, Público) a cinco (João Lopes, DN). Eu fui levada pelo tema, pelas boas críticas e por um spot de rádio que diz “um dos melhores filmes dos últimos tempos para a New Yorker”.

Gostei do filme mas não me conquistou completamente, não fui arrebatada pela história nem consegui aderir totalmente à personagem melancólico-cómico-doce de Joaquin Phoenix. Percebo a importância e o alcance que o filme possa vir a ter, por falar de um tema tão actual, tão do nosso tempo, através de uma fábula futurista mas afinal não tão do futuro assim (vemos diariamente as pessoas a preferir o contacto com máquinas, através de máquinas, em detrimento da interação física, directa, pessoal).

A sinopse é conhecida: Theodore (haverá nome mais romântico e menos futurista?) apaixona-se por uma voz, a voz de um sistema operativo emocionalmente inteligente, o qual subscreve em busca de companhia. A voz pertence a Scarlett Johansson mas vamos deixar isso de lado (vamos esquecer que a voz remete de imediato para um corpo e que corpo!).

A solidão, a incomunicabilidade, a incapacidade de lidar com pessoas e emoções reais, tudo isso o filme explora, caricaturando um mundo que afinal não está assim tão distante, onde mencionar amigos reais é quase uma piada, onde uma mulher num primeiro encontro está tão fucked up à conta de dates falhados que começa a passar-se logo ao primeiro beijo (“menos língua!, mais lábios!”).

Mas estou a alongar-me quando o que eu queria dizer é isto: sabem qual é a profissão do herói, o romântico e sensível Theodore? É costureiro de palavras! Palavra! Ele escreve belas cartas manuscritas (embora ditadas para o computador), em nome de quem quer expressar sentimentos e partilhar emoções com os seus mais queridos, e trabalha para uma empresa que se chama, precisamente, Beautiful Handwritten Letters.com.

Imaginem o sorriso de orelha a orelha que eu fiz e de quem me lembrei….

 

Beijinhos a todas, boa semana,

Céu

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