Aqui e agora



Queridas Senhoras,

hoje queria ter ido ver Boyhood ao cinema. Mas o filme tem três horas e não estava em exibição em nenhuma das salas mais perto de casa. Ainda por cima os miúdos insistiam em jogar Monopólio. E não me sentia com coragem (muito menos depois de Coraline) para os abandonar por uma longa, egoísta e solitária sessão de cinema.

De forma que jogámos Monopólio e depois vi o filme em casa, numa daquelas cópias pirata. O que eu queria era ter ido para a sala de cinema sentir aquelas emoções todas de um grande filme sobre a vida, a passagem do tempo, tudo isso que a esta hora já todos sabemos por causa da unanimidade que o filme tem gerado.

Mas reunir as condições para isso não é fácil, especialmente quando são necessárias mais de três horas, contando as deslocações, para me ir ali emocionar. De modo que vi o filme no sofá. Uma das primeiras cenas mostra a mãe a discutir com um namorado porque ela falhou um compromisso que tinham para sair e o gajo ficou chateado. E ela diz que adoraria poder ir ao cinema, a um bar, sair e divertir-se. Mas que tem dois filhos e a vida dela é essa. Foi filha, agora é mãe.

Ainda bem que não fui ao cinema. Porque mesmo tendo ficado em casa foi uma confusão, o filme acabou tardíssimo. A certa altura, o João veio enroscar-se entre mim e o pai e adormeceu. A uma hora sem jeito nenhum, quase em cima do jantar. Que estava a ficar atrasadíssimo.

Quando o filme acabou, fui a correr apanhar a roupa que estava pendurada na corda. Era noite cerrada e a roupa estava a apanhar humidade. Se há coisa que eu não perdoo é deixar o raio da roupa na corda. Não passo a ferro mas lavar, estender, apanhar, dobrar e arrumar os trapos é a minha religião, um ritual diário. E o João a dormir. Como estava tudo atrasado, e o jogo do Benfica a começar, foi deixá-lo dormir e esperar que isso não traga problemas à noite.

Este fim-de-semana não era para ser nada de especial. Tinha um jantar de amigas mas foi cancelado. Noutros tempos teria ficado mais aborrecida, agora sei que é aproveitar o que há. E até calhou bem pois uma das amigas, a S., vocês já a conhecem, veio cá a casa no sábado e trouxe o A. para brincar com o João. E fizemos castanhas assadas. E estavam boas como tudo! Descascavam-se bem e só havia três ou quatro podres. E até tinha um Moscatel de Setúbal que vi no Lidl por cinco euros e comprei a pensar “isto vai saber-me bem com castanhas assadas.” E soube pela vida! E depois à noite vimos a Coraline e foi basicamente um dia perfeito.

E hoje jogámos ao Monopólio e vi o Boyhood. Emocionei-me apesar de estar na minha sala e não no cinema. Só fui interrompida uma vez se não contarmos com a altura em que o João começou a ressonar baixinho.

No final do filme, quando o rapaz sai de casa para ir para a faculdade, a mãe desaba num pranto e pergunta “então mas afinal é só isto?!”

Parece que sim.

Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. [...] (Não é o meu candidato favorito para amanhã. Dos que vi, as minhas fichas vão todas para Boyhood.) [...]

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