Queridas Senhoras,
além da Marta, tenho algumas pessoas que me emprestam livros regularmente. É uma rede de apoio estável, bem informada, de qualidade assegurada. Muitas vezes não sou eu que escolho os títulos, são as minhas “livreiras” que o fazem por mim. A maior parte do que leio hoje em dia passa por esta rede de aconselhamento. E às vezes tudo bate estranhamente certo.
A V. emprestou-me Aquilo que eu amava da Siri Hustvedt. Até então julgo que não conhecia esta escritora nem tão pouco sabia que era mulher do Paul Auster. Estou a meio da leitura desse livro quando dou conta que a Calita está a ler O Mundo Ardente, da mesma autora. Ela escreve não um, mas vários posts sobre esse livro. Quem acompanha o blogue sabe que estamos perante algo importante.
Entretanto vou avançando na leitura de Aquilo que eu amava. Comento com V. que a certa altura o livro muda, há uma estranheza muito grande que se instala. Sinto medo, desconforto. Nessa parte fico a ler muito para lá da hora.
Poucos dias depois visito S., na sua nova casa. Como sempre, percorro as estantes para ver se há alguma coisa que me apeteça levar. E lá está, palpitante, O Mundo Ardente. Pormenor: está autografado. "To S., after a chat at Joana's studio. Siri." Sim, a S. leva uma vida emocionante.
Solto um gritinho e trago o livro comigo. Ando a lê-lo por estes dias. Claro que estou influenciada pelo que a Calita escreveu, pelas expectativas que entretanto se avolumaram. A minha percepção do que estou a ler é naturalmente condicionada por estes factores externos. Refiro isto porque a percepção das obras de arte, da criação artística, é um dos temas fortes deste livro repleto de referências, citações, informações. E muito citável também.
Ainda nem a meio vou e já coleccionei algumas frases dignas das fichas de leitura da Marta.
“O desespero, mesmo que seja só um niquinho, é feio e devemos evitá-lo a todo o custo. A infelicidade suga a energia da pessoa que a sente e de todas aquelas que são obrigadas a contemplá-la, e depois ficamos todos atolados na lama.”
“E eu tenho-os a ambos, um pendurado no mamilo e a outra encaixada na caverna feita pelo meu braço e cotovelo: um corpo triplo. Um corpo de três, gasto. Apesar do meu enorme cansaço, sei que isto é pura alegria. Digo para mim próprio: Isto é pura alegria. Não te esqueças. E não esqueço.”
Pura alegria é também ter um grande livro como este à espera todas as noites na mesa de cabeceira. Um livro denso , que não se deixa despachar, antes se demora em nós e, palpita-me, perdurará muito para lá do final.
Beijinhos a todas, boa semana!
Céu
Ah, pois é, foi a nossa Mariana que me apresentou a senhora Hustvedt! Só li um livro dela até agora, Elegia para um Americano, muito bom. Denso, é isso mesmo. Tenho-o cá, se quiseres.
ResponderEliminarOra bem! Eu não digo? As coisas continuam a bater certo. Venha ele (essa pilha deve estar enorme!) obrigada!
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