Piropos

Piropo1

Queridas Senhoras,

uma amiga comentava com muita graça, quando lhe perguntei como é que ela reagia aos piropos na rua (se replicava ou ficava calada), “Quais piropos, filha? Há pra aí 10 anos que não ouço um piropo!”

De facto, quando ando “à civil”, também não se metem comigo, é muito raro (excepto quando saio à noite com amigas; há qualquer coisa num grupo de mulheres, de qualquer idade, que faz os homens comportarem-se como energúmenos).

É quando ando fardada de desportista, em correrias pelos parques da cidade, que elas mordem. É verdade que anda meio mundo a fazer o mesmo mas, pelo menos de onde eu venho, 90% são homens. Uma mulher a correr ainda é um alvo em movimento.

Há uma grande variedade de abordagens, é claro, e nem todas são impróprias. Ao longo do tempo, fui aprendendo a distingui-las. Há o simples “bom dia” de cortesia entre corredores, ao qual respondo em geral com simpatia e agrado. (Estou naturalmente a falar de desconhecidos e não das pessoas que acabam por se tornar familiares nos circuitos habituais).

Depois vêm os incentivos a resvalar para o engraçadinho: “Força!”, “É assim mesmo!”, “Vamos embora!”, “Vá lá, vá lá!” e por aí fora. Dependendo da boa disposição, este género de cumprimentos merece-me um obrigada!, um polegar levantado ou um sorriso amarelo.

Já na linha vermelha vêm então os ditos piropos e entre estes um subtipo que, sinceramente, pensava que tinha caído em desuso. Mas acaba de me acontecer. É muito anos 90, vão reconhecer a pinta: os tipos que passam por nós num carro, normalmente cheio de amigos, e lançam uma bojarda qualquer: ”ANDAS A CORRER, AMOR?”

A sério? Uau. Melhor do que isso só aquelas almas que metem a cabeça pela janela e lançam um grito, um urro repentino, enquanto o amigalhaço aproxima o carro do passeio, para nos assustar. É confrangedor.

No grau zero da estupidez estão os comentários ordinários. São muito raros mas ainda há dias me aconteceu. Um homem com idade para ser avô dos meus filhos passou por mim a rir e disse uma ordinarice qualquer. Pois toda a gente que passava por ali ficou a saber do sucedido. Fiz questão de perguntar alto e bom som se ele não tinha vergonha e enquanto esteve no meu campo de visão não deixei de lhe chamar ordinário aos berros.

A minha opinião sobre isto: não sou eu que tenho de me sentir incomodada por ter sido perturbada; é o tipo que tem de perceber que para a próxima é melhor passar calado.

Beijinhos a todas,

Céu

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