Queridas Senhoras,
na senda dos passeios junto ao Tejo às portas de Lisboa, hoje fui descobrir Alhandra e o Caminho Pedonal Ribeirinho entre esta pacata localidade e Vila Franca de Xira.
Alhandra, Paula! Agora apanhei-te, hã? A Paula goza comigo por causa deste fascínio com terras como o Samouco e a Moita mas acho que de Alhandra nem ela desconfiava.
Tomando o comboio da Linha da Azambuja na estação do Oriente, chega-se a Alhandra em cerca de vinte minutos (antes disso valerá a pena descer em Alverca e visitar o Museu do Ar, passeio que fica prometido para outra vez). Da estação à frente ribeirinha não são mais do que cinco minutos a pé. A Paula poderá discordar mas é o género de passeio que me enche as medidas. A vilazinha rebrilha debaixo do magnífico sol de Janeiro. Revela ambientes tradicionais e comunitários, há grupos desportivos e sociedades recreativas de portas abertas, um movimento agradável de casalinhos e famílias em passeio.
Junto ao cais, há mesmo grande frenesim, proveniente da Secção Náutica do Sporting Clube de Alhandra. É dia de provas, aparentemente, e há vários canoístas, crianças e jovens, que se fazem ao rio.
No extremo do cais há um restaurante com excelentes referências, aspecto e localização, o Voltar ao Cais, que no Verão tem uma extensão terrasse mesmo em cima do rio (Paula, tem a tua cara).
O Museu de Alhandra, no Largo do Cais, ocupa a antiga casa do famoso Dr. Sousa Martins (1843-1897), médico, natural da terra. Mais à frente, a Praça Soeiro Pereira Gomes homenageia o escritor neo-realista autor de “Esteiros” (1941), obra-prima inspirada naquilo que o autor via da janela da sua casa de Alhandra, as crianças que trabalhavam nos canais do Tejo, “filhos dos homens que nunca foram meninos.” Dedicado a este e outros autores, existe em Vila Franca de Xira o Museu do Neo-Realismo.
Passando o cais de Alhandra e a azáfama dos desportistas náuticos, entramos no Caminho Pedonal. São cerca de 3,5 km de ciclovia, sempre junto ao rio, num trajecto tranquilo e cénico. De um lado o Tejo, do outro a linha férrea onde o comboio passa esporadicamente, não chegando a perturbar o silêncio. Como o caminho é extenso e pouco frequentado, não se ouve mais do que a leve agitação dos juncos impelidos pela brisa suave.
O equipamento é mínimo por forma a não perturbar a harmonia da paisagem. Pontões e bancos de madeira estão estrategicamente localizados para maior fruição e proximidade à água. A meio do percurso, junto ao apeadeiro da Quinta das Torres, há um edifício abandonado (há sempre vários nestas zonas, antigas fábricas, armazéns desactivados) onde se lê “Escola de Máquinas”. Em frente, está o que parece ser um forno comunitário, obra do cantoneiro João Claro.
Ao longo do percurso há pinturas murais alusivas aos possíveis frequentadores usufruindo da paisagem. Famílias, ciclistas, corredores, peregrinos (o Caminho do Tejo para Fátima passa por aqui), observadores de aves. As representações tanto ilustram como inspiram.
À chegada a Vila Franca de Xira, um desses quadros representa três autores locais. O mencionado Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol e Álvaro Guerra. Este último tem um busto mesmo em frente à Fábrica das Palavras, a fantástica biblioteca que nasceu em 2014 à beira-rio. Este edifício a Paula conhece bem e poderá acrescentar informação. Sei que tem uma esplanada elevada, miradouro sobre o rio, mas lamentavelmente não serve refeições.
O passeio pode prosseguir pelo cais de Vila Franca e pelo Jardim Constantino Palha, sempre junto ao Tejo. A vontade ditará o que fazer a seguir. Visitar museus, um passeio de barco, assentar arraiais num dos bons restaurantes de Vila Franca. Ou regressar ao cais de Alhandra, perfazendo os sete quilómetros de caminhada. Paula?
Beijinhos a todas,
Céu
[...] do passeio a Alhandra, há pouco mais de um mês, fiquei com vontade de descobrir as restantes zonas ribeirinhas [...]
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