Sexismo e literatura

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A Bovary, essa doida

 

Queridas Senhoras,

sobre a polémica mais recente, adorava que tivéssemos mais tempo para falar do assunto antes que estale a bomba seguinte. Deixando de lado o exemplo deste caso concreto e alargando o âmbito da discussão: à medida que os meus filhos crescem, cada vez penso mais na forma como vão absorvendo os diferentes conteúdos, filmes, livros, etc., se estão preparados os entender, como os interpretam, o que fica a fermentar naquelas cabecinhas.

Independentemente da qualidade literária, o nosso património comum é composto por séculos de uma literatura em que predomina a culpabilização da mulher, a opressão, a condenação da sua sexualidade, o castigo pelos comportamentos desviantes e muitas outras formas de menorização, humilhação e degradação do papel feminino. Podemos fazer uma leitura crítica de tudo isso, enquadrar no tempo histórico, desconstruir, perceber a crítica implícita. Mas não é exactamente o mesmo que, por exemplo, a escravatura, em que dizemos “naquele tempo era assim, os escravos não tinham liberdade ou existência própria”. Relativamente às questões da igualdade de género, os tempos não mudaram assim tanto. Não podemos dizer que é coisa do passado, se o problema está presente todos os dias, na família, na escola, nas empresas. Acrescente-se que a literatura feminista está sub-representada. O que predomina em termos de representações femininas e masculinas são os papéis tradicionais que existiram durante séculos e continuam a ser representativos de muitas situações perto de nós, nas nossas casas, escolas, empresas.

Os professores têm aqui um papel extraordinário e desafiante. (E assim se torna absurdo de tão evidente o desgaste que sofrem com tarefas administrativas quando têm cabeças, almas e corações para ajudar a formar). Quando se lê num livro «és uma puta, fodes com todos»  isto está muito distante do que a sociedade pensa? Não vivemos nós hoje, presentemente, um terrível momento de ataque à condição feminina? Não é necessário que estejamos muitíssimo despertos e alerta?

Não estou a defender nenhum tipo de censura nem a alinhar com aqueles que pedem sangue, seja lá de quem for. Estou a dizer que educar para a igualdade de género é urgente e inadiável.

Uma sugestão: A Gorda para o PNL, já.

Beijinhos a todas,

Céu

Comentários

  1. [...] Já noutro dia a Céu (na sequência da polémica em torno do Valter Hugo Mãe) reclamava a inclusão d’A Gorda no Plano Nacional de Leitura. Pois eu acrescento este livro à reclamação. E, sim, para ser lido por adolescentes, nem que [...]

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