Queridas Senhoras,
ontem o pessoal lá em casa estava um bocado em baixo, fizemos uma espécie de catarse em grupo. O João teve chatices com uns colegas, a Alice admitiu que tinha sido a última a ser escolhida nas equipas de Desporto. Outra vez. O João, embora andasse a remoer os seus próprios problemas, solidarizou-se de imediato com a irmã e disse que também já lhe aconteceu ficar para último. Mais do que uma vez. E eu recordei que na mesma escola, com a mesma idade, passei pelo mesmo. Não é agradável, definitivamente.
Com tantas teorias pedagógicas, tanta filosofia do desporto, ainda não se inventou nada melhor do que este método penalizador? Se calhar há quem argumente que, epá, a vida é mesmo assim, tudo é competição, quando for a sério também vamos ser escolhidos e se não quisermos ficar para último temos que nos esforçar para isso. Epá, porreiro. Levem lá o prémio de produtividade e comprem uma bicicleta maior.
Nesta fase o mais importante não será cativar o maior número possível de crianças e jovens para o desporto? Mostrar-lhes como é bom jogar, participar, libertar endorfinas, independentemente do jeito de cada um? Não se inventa um saco de bolas brancas e pretas para formação de equipas? Quando as crianças ficam sistematicamente para último não vão ficando cada vez mais inibidas e limitando as suas possibilidades de evolução? Não é quem tem menos jeito que precisa de mais oportunidades para treinar e praticar? Sou 100% a favor que os bons sejam estimulados, que se detectem e acarinhem grandes talentos e futuros campeões. Mas o gosto pelo desporto deve ser incentivado em todos, sem estigmas desnecessários.
Lembro-me de ser escolhida em último lugar, de não ser especialmente coordenada e ágil, de ter as pernas tortas (cá estão ainda), de não correr muito rápido e de ter dor de burro. Mas nunca perdi o gosto pelos jogos e pelo desporto. E hoje corro 20 km com as minhas pernas tortas!
(Já agora: se me escolherem em último para a equipa de trabalhos manuais, sou a primeira a concordar convosco. E podemos rir juntos da minha falta de perícia. O mesmo se aplica ao grupo coral. Também é importante reconhecer as nossas falhas e limitações :)).
Nada é definitivo, ficar em último não significa desistir nem ficar de fora. Mas parece-me que não acrescenta nada de bom. A não ser que se acredite realmente na teoria de que o método dos rankings, das hierarquias permanentes ajuda a desenvolver competências importantes. A entreajuda parece-me sempre mais importante do que a competição. Dar a mão a um colega mais fraco, passar-lhe a bola para o fazer participar mesmo que isso prejudique momentaneamente a equipa.
Os professores de Educação Física e os pedagogos, se estiverem aí, o que têm a dizer sobre o assunto?
Beijinhos a todas,
Céu
[...] de Fame? Fora o grupo dos belos e atléticos, aqueles que são escolhidos em primeiro e nunca em último, quem nunca sentiu a dor fininha da inveja, a amargura de não pertencer, de não encaixar, de não [...]
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