«Foto da cadeira do livreiro com a gata Ginja (que fez estágio no Paralelo W durante cerca de um mês).»
só agora reparo que a Primavera e o Dia Mundial da Poesia chegam já para a semana. Inauguremos então as celebrações falando com o poeta e livreiro Manuel de Freitas da Paralelo W, uma discreta livraria situada num primeiro andar da Rua dos Correeiros (em plena Baixa lisboeta), que dá especial atenção à poesia. E se isto nos fizer lembrar Ramiro, o recente filme de Manuel Mozos sobre um poeta alfarrabista de Lisboa, cremos não andar longe da verdade.
1. Quando e como se tornou livreiro?
Na verdade, foi uma transformação algo acidental. Juntamente com alguns amigos ligados à edição, sentia a necessidade de um espaço onde pudéssemos divulgar e vender, sem intermediários nem pressões comerciais exteriores, as nossas publicações. Um dia esse espaço surgiu e instalámo-nos nele.
2. Para si, o que é um livreiro?
É alguém que domina com segurança uma ou várias áreas do mundo editorial e que pode, caso seja solicitado, dar conselhos e informações úteis ao cliente. De preferência com gentileza.
3. Como caracteriza a sua livraria?
A livraria Paralelo W é um local discreto (até por ser num 1.º andar) e informal, com uma sala adjacente, onde por vezes acontecem pequenas e espontâneas tertúlias ou, de quando em quando, leituras. A nossa área de interesse é a literatura, com particular destaque para a poesia. Além de edições nacionais que não circulam nas grandes cadeias, vendemos livros usados portugueses, franceses e ingleses. Também apostamos em títulos de médias ou grandes editoras, quando estes nos parecem interessantes.
4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?
Vemos com alguma reserva o adjectivo «independente», pois estamos dependentes de inúmeros factores, sendo o principal a existência de leitores «reais», isto é, que ainda gostem de ler livros em papel. O nosso papel será, no fundo, proporcionar aos eventuais interessados uma oferta diferente da que é alvo de destaque nas livrarias generalistas. Isso implica, naturalmente, apostar em géneros minoritários, que apenas interessam a um público restrito mas exigente.
5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?
Os nossos principais clientes são leitores de poesia (também eles poetas, muitas vezes) e bibliófilos que se interessam por edições de tiragem reduzida. Há ainda algumas bibliotecas que se interessam pelo tipo de livros que divulgamos.
6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?
Antes de mais, é importante que haja editores que apostem em obras e autores que não sejam meramente comerciais. Também seria salutar que a dita imprensa cultural não divulgasse apenas livros destinados ao «grande público» e editados pelos «grandes grupos». Outro factor decisivo para a formação de leitores é o ensino, que, em muitos casos, tem decaído de modo drástico. Mas, em última análise, ser leitor é uma vocação. Cabe aos que a sentem descobri-la e melhorá-la pelos seus próprios meios.
7. Por último, pode recomendar-nos dois ou três livros importantes para si?
Clepsidra, de Camilo Pessanha, Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke, Trabalho Poético, de Carlos de Oliveira.
Há por aí muitos leitores de poesia? [aqui podemos ver e ouvir o poeta-livreiro]
Beijinhos a todas,
Céu
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