Os livreiros falam às Senhoras: 100ª Página (Sofia Afonso e Helena Veloso)



Queridas Senhoras,

começamos a semana em Braga, de onde nos chegam notícias de uma livraria instalada num edifício histórico da cidade, a Casa Rolão. Fundada em 1999, a Centésima Página transferiu-se em 2005 para esta localização privilegiada onde há espaço para uma cafetaria com menu diário e um agradável jardim, para além de uma agenda sempre muito preenchida com apresentações, debates, exposições, actividades para crianças, entre outros eventos. As livreiras Sofia Afonso e Helena Veloso responderam ao nosso questionário.


1. Quando e como se tornaram livreiras?

Se entendermos livreiro como actividade profissional, desde que abrimos a livraria em 1999. Se o entendermos como uma vocação, talvez desde que se revelou o gosto pelos livros e leitura, ainda em criança ou sobretudo no início da adolescência.


2. Para si, o que é um livreiro?

Para além de um leitor aficionado, o livreiro recusa-se a olhar o livro como uma mercadoria para vender com um prazo de validade. É conhecedor dos autores e editores e tenta estar a par das novidades que vão surgindo. O seu sonho é possuir na sua loja todas as obras que interessam de todos os autores que interessam. O que é impossível. Tenta estabelecer com o cliente uma relação que lhe permita  ir ao encontro às suas expectativas, não apenas conduzindo-o aos livros que ele procura, mas procurando surpreendê-lo e fidelizá-lo. É uma espécie em extinção.

3. Como caracteriza a sua livraria?

Localizando-se num edifício com 250 anos, num espaço amplo e aberto que incorpora um jardim associado a uma pequena cafetaria, os livros preenchem todas as salas do nosso R/C, conferindo-lhe um ambiente acolhedor e convidativo, onde se pode passear entre os livros e conviver com eles. A escolha é generalizada e arrumada por áreas temáticas. Temos uma sala dedicada à grande literatura e às ciências sociais e outra ao público infantil/juvenil. Temos ainda mesas com destaques, e áreas mais particulares, como teatro e livros em língua estrangeira.


4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?

A livraria independente oferece um serviço e uma selecção para além dos best-sellers e das novidades. Se o  livro é um objecto que perpetua as memórias, a história e a cultura, a livraria deve ser um posto de divulgação, encontro e debate cultural. Infelizmente, no nosso país, e ao contrário de outros,  as grandes cadeias e superfícies canibalizaram as livrarias de rua, obrigando-as a fechar, num ciclo que leva já uns 15 anos e que talvez agora, um pouco tarde demais, se está a inverter. Mas é o público quem dita as regras da procura e foram os próprios habitantes das cidades que, optando pelos centros comerciais, conduziram ao esvaziamento das lojas de rua, mesmo centrais. Talvez o turismo, com a entrada de milhares de estrangeiros que procuram o autêntico e a cultura local, as coisas se alterem.

5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?

São clientes sem um perfil definido, das mais variadas idades e perfis profissional e social.


6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?

Propiciar desde muito cedo o acesso ao livro em todos os formatos e géneros. Também achamos importante a existência de programas culturais de divulgação em horário nobre, que cruzem os novos autores com os mais conceituados, num registo inter-artes.




Beijinhos a todas,

Céu

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