Os livreiros falam às Senhoras: Manuel Meira (LeYa na Buchholz)



Queridas Senhoras,

nesta série de entrevistas temos dado preferência às livrarias independentes. Hoje abrimos uma excepção e falamos com um livreiro ligado a um dos maiores grupos editoriais. A livraria Buchholz foi fundada em 1943 por um livreiro de Berlim, Karl Buchholz, que viria a criar livrarias semelhantes, ao estilo alemão, em diversos países. A história é curiosa e está bem contada no blogue Restos de Colecção. A Buchholz portuguesa nasceu na Avenida da Liberdade e em 1965 transitou para a Rua Duque de Palmela, junto ao Marquês de Pombal. Quando trabalhava na Rua Braancamp, aí pelos anos 2001-2004, visitei algumas vezes a livraria e recordo o ambiente ao mesmo tempo acolhedor e austero. A Leya na Buchholz venceu em 2017 o concurso 'Livraria Preferida', promovido pela APEL. O livreiro Manuel Meira ajuda a perceber porquê.


1. Quando e como se tornou livreiro?

Sempre tive o fascínio pelos livros e em criança (pouco depois de aprender a ler) achava as livrarias e bibliotecas espaços encantados, onde poderia passar horas, um sentimento algo próximo do deslumbramento que sentia em lojas de brinquedos, agora já não ligo a brinquedos mas o encanto dos livros ainda persiste e acho que é essa a verdadeira origem do livreiro que sou. Já trabalho em livrarias há  17 anos e todos os dias vou trabalhar com satisfação.

2. Para si, o que é um livreiro?

Um livreiro é alguém que partilha a sua paixão pelos livros , que presta um serviço de aproximação do leitor e do livro, que serve de nexo entre o universo editorial e os leitores. Na LeYa caracterizamos o livreiro como o Leitor de Serviço. Concordo totalmente com esta definição. Há uma parte de trabalho de técnico de arquivo, administrativo, bibliotecário e comercial mas a essência é o gosto pelos livros e pela leitura.

3. Como caracteriza a sua livraria?

Tenho a sorte e o privilégio de trabalhar numa das mais bonitas livrarias de Portugal, a LeYa na Buchholz, um espaço com um passado histórico, um presente dinâmico e um grande futuro. Foi considerada a Livraria Preferida dos Portugueses em 2017, tendo ficado em 3º em 2016 e 2º em 2014.
Faço parte de uma equipa que conta com livreiras experientes; verdadeiras Senhoras dos livros, colegas a quem faço aqui rasgados elogios.
Temos três pisos magníficos, acolhedores  e amplos o que nos permite realizar uma série de eventos como lançamentos, comunidades de leitores, tertúlias e recitais . A abundância de espaço também permite muito fundo editorial assim temos uma oferta muito diversificada  e também um forte enfoque no escolar .

4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?

As livrarias e bibliotecas são pólos culturais essenciais para o desenvolvimento civilizacional . As mudanças e melhorias nos bairros, vilas e cidades começam em nós, e o livro é ainda um poderoso instrumento de mudança pessoal.

5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?

Os nossos leitores apreciam deambular pela livraria com calma, usufruindo do espaço e descobrindo títulos que não encontram facilmente em outras livrarias. Relativamente aos livros que procuram há uma grande dispersão pois mais do que vendas concentradas nos tops nós temos uma enorme variedade de títulos com vendas.

6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?

É certamente muito importante o papel da escola e procuramos trabalhar em colaboração com os professores em diversas iniciativas para estimular o gosto pela leitura, fazemos feiras, congressos  e encontros com autores . O suporte da família e o acesso aos livros desde a infância também é um factor chave que até fortalece as relações familiares pela partilha de experiências. Mas todos nós que gostamos de livros podemos e devemos partilhar este prazer com quem nos rodeia. A recomendação de um livro a um amigo conta muito.

7. Por último, pode recomendar-nos dois ou três livros importantes para si?

Tendo em mente leituras recentes, que podem encontrar em todas as livrarias e se preferirem na nossa, destaco: Os loucos da rua Mazur de João Pinto Coelho – Prémio Leya 2017. Depois do extraordinário Perguntem a Sarah Gross, uma obra que expõe magistralmente como as fronteiras dos sentimentos são difíceis de definir e como a ameaça da barbárie é iminente.
O pequeno caminho das grandes perguntas de José Tolentino Mendonça – Textos luminosos para uma breve leitura mas profunda reflexão.
Sapiens de Yuval Noah Harari  - Uma perspectiva surpreendente e reveladora da  História da Humanidade
Aproveito para relembrar um livrinho muito especial: Todos devemos ser feministas de Chimamanda Ngozi Adichie  pois a igualdade de género é fundamental para um mundo melhor.



O livreiro claramente a piscar o olho às Senhoras. :)


Beijinhos a todas,

Céu

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