Os livreiros falam às Senhoras: Ana Coelho (Palavra de Viajante)



Queridas Senhoras,

começamos a semana com uma livraria de viagens. Haverá melhor para enfrentar uma segunda-feira de chuva? No nº 34 da Rua de São Bento, a Palavra de Viajante nasceu em 2011 e tem crescido com a visibilidade turística de Lisboa, em geral, e desta zona da cidade, em particular. Os turistas fazem parte da freguesia mas quem mantém a força "anímica" da livraria, segundo a livreira Ana Coelho, são os clientes habituais. Cada livraria de bairro precisa deles para se manter viva.


1. Quando e como se tornou livreira?

Em 2011, quando foi criada a Palavra de Viajante. Era um sonho antigo que foi possível concretizar e que junta dois grandes prazeres: livros e viagens.

2. Para si, o que é um livreiro?

Não sei se consigo responder. Posso falar por mim: alguém que gosta de livros e de ler, que conhece os livros e que, talvez como em qualquer outro negócio, conhece os seus clientes, mesmo que sejam recentes (ou seja, consegue perceber o que a pessoa gosta e, inclusive, antecipar o gosto). Penso que todas as outras características são comuns à maior parte dos lojistas.

3. Como caracteriza a sua livraria? 

A livraria é dedicada a viagens o que lhe confere um carácter particular. Relativamente ao ambiente, tentámos que fosse acolhedor, que as pessoas se sintam bem e que sejam bem recebidas. Dado que o espaço não é grande, o balcão acaba por não ser um obstáculo entre nós e os clientes, estabelecendo-se uma maior proximidade. Alguns clientes já se tornaram amigos.
Quanto ao tipo de livros, há que ter em conta a temática: guias de viagem (claro), relatos de viagem e alguns romances em que o local (por exemplo, uma determinada cidade) é quase a personagem principal. A livraria tem livros em português, inglês, francês, espanhol e italiano.

4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?

As livrarias independentes contribuem para a identidade do bairro de forma peculiar, devido a um certo peso cultural que o livro ainda tem e por serem, normalmente, espaços acolhedores. Também contribuem para o cosmopolitanismo de um bairro, vila ou cidade. E hoje, ser cosmopolita é, também, conhecer o sapateiro ao fundo da rua onde moramos, a mercearia do bairro, saber que abriu um restaurante novo na rua de trás, ter o nosso lugar favorito no café da esquina e reconhecer o carteiro quando nos cruzamos com ele no balcão do banco, enquanto trocamos um caloroso bom dia com o cabeleireiro que acaba de chegar, depois de este ter ajudado a vizinha de cima a mudar a correia do relógio que usa há 32 anos e que era do seu pai.

5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?

As pessoas que vêm de propósito pela primeira vez (tirando os que vão a passar na rua), fazem-no por causa dos guias de viagem. Os clientes habituais (que são, sem dúvidas, os principais e os que sustentam - até do ponto de vista anímico - a livraria) voltam por saberem que aqui encontram livros de que vão gostar, que os vão surpreender ou para encomendar algo que, mesmo que não tenha a ver com viagens, nós podemos arranjar.

6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?

Os leitores formam-se em casa e/ou na escola. Para termos mais leitores é aí que é preciso insistir: pôr as crianças a ler desde pequenas, para descobrirem os mundos maravilhosos que se encontram dentro das capas dos livros. Para termos melhores leitores é preciso que se fale sobre os livros, que se discutam as temáticas, que se desenvolva o espírito crítico e que se eduque para a curiosidade.

7. Por último, pode recomendar-nos dois ou três livros importantes para si?

Outra pergunta difícil. Vou limitar-me a livros editados em Portugal e à venda aqui, para facilitar: A Ponte sobre o Drina, de Ivo Andric (Cavalo de Ferro), A Estrada para Oxiana, de Robert Byron (Tinta da China) e A Lebre de Olhos de Âmbar, de Edmund de Waal (Sextante).




Beijinhos a todas,

Céu

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