Queridas Senhoras,
"a livraria de Sines e do Litoral Alentejano", pode ler-se no blogue da A das Artes. O primeiro livreiro de fora de Lisboa a falar às Senhoras é Joaquim Gonçalves, um caso sério de sucesso, citado como exemplo do que pode e deve ser uma livraria em relação à comunidade onde está inserida. Eleita várias vezes Livraria Preferida dos portugueses, a A das Artes é um autêntico centro cultural onde acontece de tudo um pouco. E Joaquim é o conselheiro de todas as horas, o "farmacêutico literário".
1. Quando e como se tornou livreiro?
Humm, acho que as pessoas não se tornam livreiros. Vão-se formando, sim, ao longo dos anos e com muito trabalho. Não há, pois, um momento. O processo tem início desde que se começa a ler. Vender livros em livraria, isso, começou há cerca de vinte anos.
2. Para si, o que é um livreiro?
Como livreiro proprietário de livraria, será um técnico superior formado na tarimba das leituras, conversas, curiosidade, respeito, modéstia e outras mordomias só alcançáveis por loucos. O livreiro assalariado será isso tudo mas com ordenado e sem dívidas inerentes ao ofício. O propósito de ambos deverá ser propor, aconselhar, esclarecer os clientes. O farmacêutico literário.
3. Como caracteriza a sua livraria?
A A das Artes livraria é um agente cultural na cidade onde está instalada – Sines – forrado a madeira por baixo e livros pelos lados. Distingue-se, como todas as livrarias, dos outros agentes culturais por não ser subsidiado.
Com espaço de cafetaria, aqui se têm desenvolvido actividades como as naturais apresentações de livros, mas também pequenos espectáculos de música, teatro, dança contemporânea, sessões de contos para crianças que até podem passar por dormida na livraria, reuniões conspirativas e outras ilegalidades.
Saímos porta fora para feiras, encontros, festivais, actividades em escolas.
Como editora, cuja actividade teve início há poucos meses, vamos já levar o nosso primeiro autor, o jovem Gonçalo Naves, ao Printemps Litéraire, em Bruxelas e Antuérpia.
4. Qual entende ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades?
Não considero que as livrarias, em contexto de bairro, vila ou pequena cidade seja muito diferente do comércio tradicional que se dedique a produtos de necessidade mais ou menos imediata. O conjunto desta oferta de produtos e serviços é que constitui a cidade, a vila e o bairro. A irresponsabilidade e, em muitos casos, a ganância, têm varrido tudo de enxurrada em direcção às grandes superfícies comercias. Os grandes eucaliptais da cultura e da sociedade – onde se instalam, secam tudo à sua volta.
5. Quais são os principais clientes da sua livraria e o que procuram?
Sendo a A das Artes uma livraria generalista a procura é muito variada e os clientes também.
Os nossos clientes principais são as pessoas, já que as instituições, salvo raras excepções, ao invés de promoverem o bairro, a vila, cidade ou região, regem-se por princípios meramente economicistas. Esta é uma discussão sem fim.
6. Em sua opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?
A escola. A escola. A escola.
A escola. Assim os professores sejam libertos para fazerem o seu trabalho, o que, actualmente, é quase impossível.
O resto é complementar.
7. Por último, pode recomendar-nos dois ou três livros importantes para si?
A árvore generosa; Poesia III de José Gomes Ferreira; O Livro do Desassossego.
Beijinhos a todas,
Céu
Se eu não fosse cliente desta livraria, só por esta introdução, ficaria muito curioso de conhecer esta livraria e este livreiro. Vale a pena, acreditem!
ResponderEliminarComo cliente desta livraria, agora também editora, confirmo que o Joaquim Gonçalves é um verdadeiro mestre na sua arte, isto é, no aconselhamento de leituras e na divulgação de autores portugueses. É um livreiro que lê, e que por vezes também escreve, por isso desempenha muito bem a sua função. Facto que lhe tem valido vários prémios e o reconhecimento de quem com ele priva (autores e clientes). Boas leituras!
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