Os leitores falam às Senhoras: Calita Fonseca (Panados e Arroz de Tomate)



Foto: em Maubara, Timor-Leste


Queridas Senhoras,

depois dos escritores e dos livreiros, nada mais justo do que falar com os leitores. Calha mesmo bem ser a Calita a inaugurar esta nova rubrica. Além de ser uma grande leitora (condição imprescindível para responder a este questionário), ela é autora de um dos blogues mais importantes para mim, o Panados e Arroz de Tomate. Comecei a ler este blogue talvez há cinco anos. Depois tive a sorte de conhecer a Calita pessoalmente e de ir acompanhando o seu percurso (entre Lisboa, Porto e Póvoa de Varzim) que passou recentemente por um período de dois anos de vida familiar em Timor. Muito antes de eu saber que ia ficar desempregada e que ia ter de inventar e fazer coisas (fazer é melhor do que não fazer, esta máxima é do prof. Zink e tem-me ajudado: faço o que posso, vou fazendo), já seguia com expectativa as aventuras da Calita. E dava (dou) a máxima atenção às leituras dela.


1. O que estás a ler neste momento?

Estou a ler Da Família do Valério Romão, sabes? O escritor que ainda não sabe que gostava de vir jantar cá a casa.

2. O que leste antes e o que vais ler a seguir?

Antes li Até ao Fim da Terra, de David Grossman. Não, espera, foi o Uma Menina Está Perdida no seu Século à Procura do Pai", de Gonçalo M. Tavares, mas o livro de Grossman acompanhou-me muito tempo. Por isso parece sempre que foi o último. A seguir não sei bem, tenho em cima da secretária o Batleby & Companhia do Enrique Vila-Matas, mas pode surgir outro.

3. Conta-nos uma memória de infância relacionada com livros

Em minha casa não havia livros. Ler era para quem não tinha mais o que fazer, mas a certa altura um caixeiro viajante convenceu a minha mãe a ser sócia do Círculo de Leitores e ela comprou um livro erótico sem fazer ideia do que se tratava. Eu não devia ser muito criança, porque lembro-me de ler aquilo com muito interesse e sublinhar as partes "mais interessantes". Lia-o à escondidas, obviamente, e a certa altura o livro desapareceu. Mais tarde reli muitas das partes desse livro, ou foi o que me pareceu, n' Os Cadernos de Dom Rigoberto de Mario Vargas Llosa.

4. Que livros marcaram a tua adolescência?

Aqueles romances de cordel Sabrina e Bianca.

5. Um local público onde gostes de ler

Eu gosto de ler em qualquer sítio, se tivesse de escolher diria uma esplanada, ou um café.

6. O teu recanto preferido de leitura (em casa)

Não tenho. Tanto leio no sofá da sala, como sentada na secretária, à mesa enquanto almoço, ou de pé na cozinha enquanto bebo café.

7. Uma biblioteca importante para ti

A biblioteca mais importante para mim é a Rocha Peixoto, na Póvoa de Varzim. Fica ao lado da escola onde fiz o secundário e nunca mais frequentei outra biblioteca como frequentei esta. Gostava muito da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, quando vivia no Porto e da São Lázaro e da Camões quando vivia em Lisboa, mas não têm o mesmo significado.

8. As livrarias que costumas visitar

Agora vivo numa cidade pequena com poucas livrarias e as que existem são também papelarias. O sítio com livros que gosto de frequentar também serve comida e vinho. O paraíso, portanto. Chama-se Theatro.

9. Uma editora de que gostes particularmente

Gosto da Tinta da China, pelo conceito e pelo dinamismo. Fiquei curiosa com a Abysmo depois de assistir ao Correntes d' Escrita este ano.

10. Que livros gostarias de reler?

Eu achava que havendo tantas coisas novas para ler não faz muito sentido reler, mas agora não tenho tanta certeza. Há livros que ficam connosco sem que saibamos porquê. Agora, por exemplo, era gaja para reler o Dora Bruder de Patrick Modiano.

11. Acessórios de leitura que não dispensas

A única coisa que preciso para me afundar na leitura é o livro. Se tiver os óculos comigo melhor, se não paciência.

12. E se um livro não prende, pões de lado ou insistes?

Ponho de lado.

13. Costumas ler sobre livros? Quais são as tuas fontes?

Sim, leio sobretudo as críticas literárias do Ípsilon [Público] e Expresso.

14. Uma citação inesquecível 

«E que aborrecimento não beber. O mundo, em si mesmo, é muitas vezes entediante e carece de verdadeira emoção. Sem álcool uma pessoa está perdida.»
Dublinesca, Enrique Vila-Matas



Não podíamos ter começado melhor, pois não?


Beijinhos a todas,

Céu

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