Os livreiros falam às Senhoras: Débora Figueiredo e Fábio Marcelino (ennui)



«Na foto: alguns livros e o gato Bartleby, um dos gatos que se passeia na fronteira entre casa e livraria»

Queridas Senhoras,

hoje falamos com os responsáveis pela livraria online ennui. Um caso diferente de todos os que temos apresentado até agora. Não há um lugar físico onde nos possamos dirigir, um ambiente acolhedor com estantes, recantos e sofás. E no entanto, a magia pode acontecer. Troca-se o conforto material pelo consolo espiritual, estabelecem-se relações de intimidade entre livreiro e leitor.  Débora e Fábio contam como é ser livreiro de proximidade à distância.


1. Quando e como se tornaram livreiros?

No meu caso (Débora), já era livreira há mais de 10 anos quando conheci o Fábio e já tinha trabalhado na Barata, na Bulhosa, na Pó dos Livros. Decidimos começar a ennui ao perceber que o nosso interesse e gosto em livros coincidia e começámos a trabalhar juntos.

2. Para vocês, o que é um livreiro?

Saber desvendar as pistas que os leitores nos dão para que os livros certos cheguem aos seus leitores. E também uma procura constante de encontrar os livros que os leitores nos pedem.

3. Como caracterizam a vossa livraria?

É uma livraria de leitores. Até por trabalharmos a partir de casa a barreira entre livreiro e leitor é diluída e a escolha dos livros é fortemente influenciada pelos nossos gostos. Trabalhamos essencialmente com livros em segunda mão e com editoras mais pequenas (Sistema Solar, Antígona, Hiena, Fenda, Averno, entre outras).

4. Qual entendem ser o papel das livrarias independentes nos bairros, vilas e cidades? E o papel das livrarias online?

Por acreditarmos no papel do livreiro, não fazemos distinção entre livraria online e livraria física. A importância do livreiro parte da sua relação com o leitor e com o livro e essa relação pode existir de diferentes formas. No nosso caso, acreditamos que é através de uma oferta diferente daquela que existe nos espaços mais generalistas e numa relação mais próxima com as pessoas que esse papel se cumpre.

5. Quais são os principais clientes da vossa livraria e o que procuram?

Somos procurados, principalmente, por leitores de poesia e coleccionadores de edições antigas e livros esgotados.

6. Em vossa opinião, o que pode contribuir para formar mais e melhores leitores?

Essa questão tem muitas respostas e todas elas complexas. Mas talvez seja importante começar pelo início: se nas escolas as crianças tivessem que escrever mais e não se limitassem a responder com cruzes, se os textos escolhidos tivessem uma maior qualidade literária talvez a relação de muitas crianças com as palavras e com a literatura fosse outra.

7. Por último, podem recomendar-nos dois ou três livros importantes para vocês?

Discurso Sobre a Dignidade do Homem de Pico Della Mirandola, Poemas (As Elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu) de Rainer Maria Rilke (tradução de Paulo Quintela) e Gaspar da Noite de Aloysius Bertrand.



O que acham? Não vos parece que o 'livreiro pessoal' é uma espécie de personal trainer do espírito e do intelecto? Com a vantagem de não gritar, não insistir e, em princípio, não usar lycra.


Beijinhos a todas,

Céu

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