Queridas Senhoras,
vinha hoje falar-vos de fukú e reparo que o assunto vem mesmo a calhar já que é Dia das Bruxas. Fukú é uma espécie de maldição, tem como contra-senha a expressão “safa” e pode dizer-se que é o tema do extraordinário A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao, um dos melhores livros que já li. Não nos últimos tempos mas desde sempre.
Os factos resumidos são estes: o autor, Junot Diaz, é um dominicano-americano, nascido em 1968, e que actualmente é professor de escrita criativa no MIT. Embora não tenha sido o primeiro a ser publicado, A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao foi o primeiro livro que escreveu e levou 11 anos a fazê-lo. O livro recebeu o Pulitzer e mais uma catrefada de prémios.
A história é a de Oscar, um miúdo dominicano que ao princípio até se safa (no jardim-escola tem jeito com as miúdas) mas a partir daí é o descalabro. Obeso, fanático por banda-desenhada, ficção científica e jogos de computador, a sua adolescência é uma provação, uma sucessão de humilhações. O género de cromo que a mãe tem de obrigar a ir para rua e que volta para casa às escondidas para ficar a ler fechado no armário. Um desajustado, solitário, de quem até os outros dois amigos cromos se afastam quando arranjam namorada.
Este tipo, a quintessência do cromo, tem a particularidade perversa de se apaixonar facilmente, em geral por miúdas “complicadas” (como se as houvesse de outro tipo).
Oscar é um cromo mas um cromo adorável (inicialmente formei na cabeça a imagem do Manny de Uma Família Muito Moderna), por quem vamos torcendo ao longo da história, sabendo, contudo, que a referência à brevidade da vida, no título, não augura nada de bom. Fukú.
Como pano de fundo, a história da República Dominicana e da terrível ditadura do Trujillo. Esta parte é contada em extensas mas vívidas notas de rodapé. E o fukú sempre à espreita.
A escrita é qualquer coisa. Vibrante, viciante, cheia de termos que foram mantidos em espanhol, sem itálicos ou interferências de qualquer espécie, tornando a leitura muito fluida e “auditiva”.
Como curiosidade, diga-se que o narrador da história, Yunior, ex-namorado da irmã de Oscar (e alter ego do autor), é o protagonista do livro seguinte de Junior Diaz, É Assim que a Perdes. Alguém me empresta este?
Beijinhos a todas,
Céu
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