O seu a seu dono

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Queridas Senhoras,

hoje trouxe da Feira do Livro o Caderno de Significados de Agustina Bessa-Luís. Depois de o ler, vou enviá-lo à senhora Marta e com ela ficará.

Aqui há tempos partilhei-o com ela como presente virtual. Pois se hoje os meus passos na feira me conduziram até esta obra singela, se a abri e folheei dando logo com dois ou três textos irresistíveis, é certo que tinha de o trazer. E como já o tinha “oferecido” à Marta, é justo que ela o receba.

Reparem, é um livrinho perfeito, simples, bonito. Por todo o lado tem escrito senhora Marta. E o título? Caderno de Significados é Costureira de Palavras, sem tirar nem pôr.

O livro está organizado por pequenas entradas, de tipo diarístico, que focam mil assuntos diferentes. Deixo-vos excertos das três entradas que li ao calhas, curiosamente todas sobre livros:

A FELICIDADE QUE ME TRAZEM CERTOS LIVROS
Tempos áureos em que ler um livro era uma descoberta ao mesmo tempo simples e maravilhosa (…). Os livros já não me intimidam; quer dizer que não me alegram nem fazem chorar. (…) já não são aquele livro que se lia depressa, comendo maçãs (….)
[como não sorrir se ontem mesmo acabei o último livro que a Marta me emprestou numa longa viagem de comboio, enquanto roía maçãs de Alcobaça?]

UM LIVRO PARA FÉRIAS
Um livro para férias não deve ser escolhido. O que se escolhe serve à personalidade, e as férias são o pretexto para sermos impessoais, fazer o que muitos fazem, ir para onde muitos vão. Pegue num livro que não pese mais de 200 gramas e leve-o consigo. Leia três páginas, esqueça-o na gare ou no banco das termas, na praia ou no restaurante, e aí, sobretudo aí, tenha a certeza que é o bom livro para férias; se você não tiver pena de o ter perdido.
[não me é totalmente estranha a ideia de escolher um livro pelo peso; há circunstâncias que exigem livros leves e não me refiro ao conteúdo]

FEIRA DO LIVRO
É possível imaginar uma tarde mais doce debaixo dos céus de Lisboa, mas eu não quero imaginar. O Parque Eduardo VII onde se inaugura a Feira do Livro está todo fechado em copas de árvores onde goteja uma promessa de chuva. Há muita gente conhecida e desconhecida. (…) paira um bom presságio que está onde às vezes menos se espera. Saramago, mais sorridente do que é costume, Lobo Antunes aparece e desaparece. Eu, com os meus pés tenros como espargos, sento-me na cadeira que há no Pavilhão e dizem-me, de vez em quando, que a guerra foi declarada entre editores e livreiros (…).
[o gozo que é ler isto na Feira do Livro]

E ainda este excerto extra, citado por Pedro Mexia no seu blogue (não consigo localizar a recensão que ele escreveu para o Expresso mas foi esse texto que me despertou a atenção para a obra):

EXEMPLO DUMA PESSOA FELIZ
Exemplo duma pessoa feliz é o seguinte: um indivíduo acorda no meio da noite e vê o quarto ligeiramente iluminado. Não sabe se é madrugada ou se o candeeiro da rua projecta o clarão nos vidros da janela. Pergunta para si própria: «Que horas serão?» Nesse preciso momento, o relógio da torre bate duas, três ou seis badaladas. A pessoa fica imediatamente elucidada e dissipa-se o seu problema. Devo dizer que esta hipótese é muito rara.

 

Beijinhos a todas,

Céu

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