- O melhor e o pior
O melhor desta idade para mim foi ter atingido um estádio de paz interior, em que nunca me senti tão bem comigo própria. Cheguei a uma altura em que percebi o essencial e o que verdadeiramente importa na vida: a saúde e o amor, aqueles de quem gostamos e o tempo que temos com eles nesta vida, o sol e o mar, um sorriso e um abraço, as coisas que nos dão prazer. É estranhamente libertador estar-me completamente a barimbar para o que os outros pensam, porque tentar estar sempre a agradar aos outros é extenuante. E isso, minhas senhoras, é um estádio de evolução interior que só esta idade permite (e que muitos nunca atingem).
O pior talvez seja a noção de finitude, que se torna mais real, mais concreta e inevitável, mais presente no dia a dia. Sempre a tive muito presente, mas agora não preciso de fazer nenhum esforço para ser lembrada que a vida é fugaz e efémera, pelo que é para ser aproveitada o melhor possível. Não é que a morte me angustie ou seja um condicionamento à vida, mas chateia-me, porque não me apetecia nada.
- As surpresas e as desilusões
Uma surpresa é o tratamento por “senhora”. Bem sei que no norte do país continuam a tratar-nos por “meninas” até aos 90 anos, mas aqui em Lisboa para mim foi uma surpresa começar a ser olhada como “a senhora”. Só no cabeleireiro é que ainda sou menina, porque em todos os outros sítios parece que tenho um ar muito respeitável e adulto, que não se compadece com infantilidades. A surpresa é estar já quase nos 40, porque há décadas achávamos essas pessoas velhas, maduras, até circunspectas, e depois chegamos cá e não é nada disso: passou num instante, estamos enchutas e lindas, nunca deixamos de procurar a felicidade em cada momento e afinal não mudou assim tanta coisa (pelo menos por dentro!).
Talvez a desonestidade e malvadez de algumas pessoas tenha sido uma desilusão, ou um processo (doloroso) de aprendizagem sobre a natureza humana…
- As conquistas e as perdas
Conquistas há muitas, mas a mais importante é a noção de quem sou e, mais importante ainda, a aceitação, que é o passo seguinte que muita gente não dá – e estar em paz com isso. A maior conquista, aquela que me dá alegria todos os dias, está bem perto de mim e tem já 15 anos.
As perdas são aqueles que nos deixam e que queríamos ter connosco por mais tempo. Mas também há perdas boas: as perdas de preconceitos, as perdas de vergonha, as perdas de tudo o que é acessório.
- O que mudaria, se pudesse, mas não posso; e o que mudaria, se pudesse, e posso
O que posso mudar, mudo! Sempre fui assim, não sofro do síndroma da acomodação, nem do medo das coisas diferentes. Já as coisas que (ainda) não posso mudar são várias, mas não perco a esperança nem a vontade… viver num local ao pé do mar e fazer disso a minha vida é uma hipótese.
- O meu grau de satisfação com a minha rotina diária, de 0 a 10
Diria um 8. Fiz opções, malucas aos olhos de muitos, em detrimento da minha segurança financeira e em prol da minha felicidade. E disso é impossível arrepender-me. Ter os meus horários e só depender de mim é algo impagável, mas também desafiante, pela disciplina que exige.
- Recados para mim aos 20
Não te stresses tanto com tudo, porque só traz cabelos brancos. Aceita que a perfeição não é possível e que agradar a todos também não. Não tires um curso pelo emprego que dá, mas sim porque gostas - porque mais vale tentar ser um excelente antropólogo ou RI, do que um péssimo (e infeliz) economista! De resto estás no bom caminho, o melhor ainda está para vir…
- Votos para mim aos 50
Continua a acreditar no amor, nos teus valores, na bondade e na beleza da vida. Continua a espantar-te com as flores, com o voo dos pássaros, com as crianças. Não deixes que o tempo te atraiçoe naquilo que achas que é mais importante, nem que a luz da tua alma esmoreça, até ao fim.
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Obrigada, Patrícia.
Para participar no nosso questionário 'Ter 40', basta enviar as respostas por email. Saibam mais aqui. Até já.
Marta
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